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Diplomata brasileiro: Brasil pode e deve inserir-se na “Rota da Seda Digital do Século XXI”

Fonte: Diário do Povo Online    15.01.2020 10h10

Diego de Souza Araujo Campos

*As opiniões expressas neste artigo são de cunho pessoal e não refletem, necessariamente, àquelas do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e da CREDN

Em 2019, foi celebrado o 70º aniversário da fundação da República Popular da China, país que soube reinventar-se, tornando-se ator de suma relevância na economia e no comércio internacionais. Nesse contexto, as potencialidades da cooperação entre o Brasil e a China, parceiros estratégicos, podem ser fomentadas na lógica de um relacionamento bilateral pragmático e de benefícios mútuos, tendo como um de seus pilares a Belt and Road Initiative e a chamada “Rota da Seda Digital do Século XXI”.

No recente seminário internacional Novos Anseios da Política Exterior Brasileira: renovar para avançar, organizado pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o embaixador da China em Brasília, Sr. Yang Wanming, recordou que os investimentos chineses são substanciais no Brasil. Hoje, existem mais de 300 empresas chinesas operando em território brasileiro, com ênfase na agricultura, na infraestrutura, na energia e na mineração. Lembrou, ainda, da cooperação em tecnologia espacial, que começou na década de 1980, e das possibilidades de transferência de tecnologia 5G para o Brasil.

As palavras do embaixador chinês trazem à tona as potencialidades da parceria estratégica Brasil-China, que pode ganhar contornos cruciais para o desenvolvimento não apenas da infraestrutura física, mas também da digital no Brasil. Para tanto, convém mencionar as oportunidades para o País no âmbito da Belt and Road Initiative, ou seja, da plataforma multilateral, lançada pela China há alguns anos, que visa a fomentar investimentos em infraestrutura, com o objetivo de beneficiar o livre-comércio.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no estudo China’s Belt and Road Initiative in the Global Trade, Investment and Financial Landscape, mostra que, em cenário de queda do investimento médio em infraestrutura ao redor do mundo, tal iniciativa significa estímulo crucial ao fomento do comércio internacional, criando maior conectividade e, consequentemente, estimulando as trocas comerciais e os novos investimentos em infraestrutura.

O Brasil, carente de infraestrutura e de investimentos produtivos, não pode ficar de fora de plataforma que pode transformar o País em verdadeiro hub de conectividade, física e tecnológica, aproveitando sinergias e interesses com os chineses.

Dessa forma, a própria integração sul-americana seria beneficiada, pois o fomento da infraestrutura brasileira criará capilaridades para outros países da região, como cabos de fibra ótica interligando o Brasil a vizinhos, tornando-o espécie de indutor da interligação e da conectividade sul-americanas, com o apoio de capitais provenientes da China e de outros países asiáticos.

Cabe frisar que o século XXI não permite que o Brasil se detenha apenas em aprimorar e em expandir estradas, ferrovias e aeroportos. Claro que a infraestrutura física tradicional é fundamental ao desenvolvimento econômico, mas o País precisa ir além.

Nesse sentido, o Brasil pode e deve inserir-se na “Rota da Seda Digital do Século XXI”, espécie de ramificação da Belt and Road Initiative, caracterizada pela cooperação transfronteiriça na economia digital, na nanotecnologia e na computação quântica, na inteligência artificial, no Big Data, na computação na nuvem e no desenvolvimento de cidades inteligentes. Entre outros objetivos, a referida rota pretende acabar com gargalos na cobertura digital, com a construção de cabos transfronteiriços e submarinos, bem como com a construção e o lançamento de satélites.

O China-ASEAN Information Harbor (CAIH), empresa focada na tecnologia da informação, com sede na província chinesa de Guanxi, mostra a dimensão da nova rota da seda. Atualmente, o CAIH trabalha em parceria com empresas de Singapura, Malásia, Indonésia, Filipinas, Laos, Cambódia, Tailândia e Mianmar, mas não há restrições a novas parcerias fora da Ásia. Exemplifica as janelas de oportunidades da cooperação com a China, inclusive com ações cooperativas entre países e empresas asiáticas.

A Rota da Seda Digital ilustra as potencialidades das relações Brasil-China no âmbito da Belt and Road Initiative. Sem dúvida, as portas da cooperação estão abertas para ambos os países, seguindo a lógica do pragmatismo e dos ganhos mútuos. Estou seguro de que o Brasil não perderá a oportunidade de explorar as potencialidades chinesas. 

(O autor é o diplomata e Assessor Internacional da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil)

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