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“As mudanças na China não são anuais ou mensais, mas sim diárias”, defende embaixadora da RME na China

Fonte: Diário do Povo Online    24.08.2018 11h13

Por Andreia Carvalho

A residir em Chengdu desde janeiro, Valéria Vicenti, embaixadora na China da Rede Mulher Empreendedora, concedeu uma entrevista ao Diário do Povo na qual falou da sua missão na China e das mudanças que tem observado no país.

A Rede Mulher Empreendedora (RME), a primeira plataforma de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil, conta com “mais de 300 mil seguidoras e um grupo fechado de mais de 40 mil pessoas”, afirmou a embaixadora.

No Brasil, 42% da população empreendedora é do sexo feminino, panorama que se assemelha com a China, cujos indicadores têm crescido a um ritmo cada vez mais acelerado.

“Por exemplo, acho impressionante o espaço que dão nos mídia ao Jack Ma. Que fala que tem 40% de CEOs mulheres, porque aprendeu que as mulheres conduzem a empresa com a mesma paixão que conduzem a família. Isso é uma grande mudança”, refere.

Enquanto representante da Rede, Valéria escreve artigos e apoia outras mulheres no setor do empreendedorismo, estando agora focada em difundir os conhecimentos que adquiriu na China.

“Algo que aprendi é que a perceção de negócio como empreendimento dos chineses é mais racional que a do brasileiro. O chinês se debruça muito sobre os números, sobre o que projetou. Na China, você abre um negócio e ele não é seu ‘filho’, é só um negócio. Para um latino, o negócio é como um filho. É criado um luto, ‘não está bem, mas vai dar certo’. Mas o chinês é mais inteligente. Se não dá, fecha, e abre um novo negócio. É importante aproveitar o conhecimento do vizinho, entender porque ele é mais forte e porque o cliente entrou na sua porta e não na minha. E esse é um dos ensinamentos que tento passar às jovens empreendedoras”, disse.

Atualmente, devido à situação económica do Brasil, o empreendedorismo surge muitas vezes como fuga, se tornando na grande engrenagem do país. “Nós (empreendedoras) movimentamos o país, o dinheiro, e temos essa alavanca de sucesso e prosperidade, porque as pessoas compram dos pequenos, dos médios, dos próximos. Somos uma alavanca de empregabilidade, crescimento financeiro, mas temos que nos profissionalizar e ter uma visão mais fria. Tudo vem com discernimento, sabedoria, muito trabalho e racionalidade – equilíbrio entre razão e emoção”.

Valéria Vicenti, embaixadora da Rede Mulher Empreendedora na China.

Acompanhando o marido, que foi destacado para trabalhar em Chengdu, Valéria se mudou para a cidade chinesa em janeiro. Poucos meses depois, após a publicação de vários artigos, foi convidada pela RME para ser embaixadora e mentora, e partilhar a sua experiência.

“O objetivo é que eu seja um canal multicultural, que leva essas diferenças culturais, que precisam ser entendidas, e ser alguém que conscientiza as pessoas sobre a velocidade e racionalidade dos negócios, além de contribuir com ideias e sugestões. E é também imprescindível desmistificar a ideia do “made in China” (fabricado na China), que já não é mais assim, agora é mais um “created by China” (criado na China). As coisas estão sendo criadas aqui. O país que era conhecido pelas cópias aprendeu muito com elas, e agora está inovando. Aprimorar o que existe, não é pecado. Pecado é copiar o mesmo. Isso é falta de inteligência”, reiterou.

Se mudando para a China no ano em que são celebrados 40 anos da Reforma e Abertura do País, Valéria considera impossível não notar as mudanças, que “não são anuais, mensais, mas sim diárias”, que estão acontecendo no país.

“Toda essa política é muito inteligente. Mas sente-se que é uma abertura controlada, ainda muito regrada. Essas regras, que impõem um punho forte de que o crescimento vai acontecer e será exponencial, são algo necessário para garantir o sucesso”, reforçou.

Apesar da ainda curta estadia pela China, Valéria descreve a sua experiência no país como “apaixonante”. Referindo a atual falta de conhecimento e informação recíproca, a embaixadora espera que essa experiência possa ajudar a contribuir para a aproximação do Brasil e da China, “que parecem tão diferentes, mas são bem iguais”. 

 

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