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Incerteza política e protecionismo dos EUA frustram crescimento do Brasil

Fonte: Xinhua    13.07.2018 14h35

São Paulo, 13 julho (Xinhua) -- A incerteza política em um ano eleitoral, juntamente com medidas protecionistas dos Estados Unidos, levaram o Brasil a rebaixar sua previsão de crescimento para 2018, disseram economistas.

A queda nas expectativas segue um período inicial de seis meses, quando a moeda nacional perdeu quase 20% do seu valor em relação ao dólar, e a produção industrial caiu 10,9% em maio, após uma greve dos caminhoneiros ter paralisado a atividade econômica por grande parte do mês.

Analistas e economistas financeiros brasileiros estão projetando um crescimento de 1,5% no produto interno bruto (PIB), metade da taxa original de 3% esperada para o início do ano.

"Existem vários fatores internos e externos. O externo é a bolha inflacionária que poderá estourar no próximo ano nos Estados Unidos, devido a medidas protecionistas que afetam diretamente o Brasil", disse Paulo Dutra, chefe de estudos econômicos da Fundação Armando Álvares Penteado ( FAAP), em São Paulo.

O aumento da taxa de juros nos EUA e as altas tarifas sobre o aço importado e o alumínio tiveram repercussões na maior economia da América Latina. "Nós notamos uma diminuição no investimento direto", disse Dutra.

Ele disse que outro fator que inibe o crescimento tem sido a erosão no apoio legislativo à reforma previdenciária defendida pelo presidente do Brasil, Michel Temer, devido a acusações de corrupção contra ele.

"No final de 2017, o governo previu um crescimento de 3% para 2018, mas se pudermos verificar metade disso, será considerado um sucesso", disse Dutra.

A economia brasileira parecia pronta para um crescimento real após dois anos de recessão em 2015 e 2016, seguido por um modesto crescimento de 1% em 2017, mas os efeitos em cascata da guerra comercial do presidente norte-americano, Donald Trump, estão afetando as economias emergentes, disse ele.

"Aumentar a taxa de juros para evitar a pressão inflacionária nos Estados Unidos acabou colocando pressão sobre o real e outras moedas, tornando as importações mais caras e gerando inflação em nossos países", disse Dutra.

Juliana Inhasz, economista da Fundação Getúlio Vargas, também disse que o fracasso de Temer em implementar a reforma da previdência enfraqueceu a confiança do mercado.

"A falta de apoio no Congresso para a reforma previdenciária levou o mercado a alterar suas expectativas sobre uma recuperação económica sustentada", disse ela.

Além disso, o protecionismo da parte dos Estados Unidos, combinado com os baixos preços do petróleo, tornaram a situação econômica no Brasil "mais aguda", disse ela.

"Se houver uma guerra comercial, poderemos ver mais pressão sobre a desvalorização do real", acrescentou ela.

Com a proximidade das eleições presidenciais de 7 de outubro, espera-se que o mercado financeiro ressoe com os candidatos que prometem privatizar empresas estatais, disse ela.

"Temos candidatos que são contra privatizar empresas estatais e aumentar o déficit fiscal. Se isso continuar, isso pode tornar a situação econômica do Brasil muito mais difícil", disse Inhasz.

Joelson Sampaio, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, disse que o mercado "não é capaz de olhar para o futuro porque ainda não há um cenário claro para as eleições - não sabemos o que vai acontecer".

Neste momento, os investidores que olham para o Brasil ainda vêem muitos pontos de interrogação, disse ele.

"É um ano eleitoral e há uma crise política com um cenário externo e a taxa de juros dos EUA. Há um certo reinício do crescimento no setor empresarial, mas os investidores ainda vêem a economia brasileira com incerteza", disse Sampaio.

 

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