Macau desempenha “papel muito importante na iniciativa Uma Cinturão, Uma Rota”, defende especialista

Fonte: Diário do Povo Online    07.06.2018 17h02

Por Ma Jian e Andreia Carvalho

“Macau tem um posicionamento principalmente histórico e desempenha um papel muito importante nas relações da China com os países de Língua portuguesa”, defendeu José Luís de Sales Marques, presidente da direção do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), em uma entrevista ao Diário do Povo Online, a par da Conferência Internacional da “Faixa e Rota” e o Desenvolvimento de Macau 2018, realizada nos dias 6 e 7 de junho.

“A Faixa e Rota é uma iniciativa chinesa de grande alcance e, na sua primeira formulação, na primeira apresentação do mapa do mundo com a faixa e rota, não aparece nenhum país de língua portuguesa integrado nesta ideia”, refere.

O entrevistado desvaloriza, contudo, esse fator, salientando instituições como a Plataforma de Macau, e “o investimento que a China está a fazer também em países de língua portuguesa, que, atualmente, segundo diversas estatísticas, já ultrapassa os 100 mil milhões de dólares americanos, com tendência a subir”. Tendo em conta tais fatores, juntamente com o facto dos países da CPLP estarem dispersos pelos quatro cantos do mundo, “faz todo o sentido” que o bloco seja um elemento a incluir na iniciativa chinesa, argumenta.

Reforçando que Macau tem um papel importante nas relações da China com os países de Língua Portuguesa, Marques explica que Macau foi o primeiro espaço de interação a longo prazo entre a China e a Europa, aludindo aos mais de 400 anos de história das relações.

“Macau, para além dessa ligação histórica, e porque todo o processo de transição decorreu num clima de cooperação e amizade entre a China e Portugal, manteve um conjunto de características que a tornam um espaço de diálogo entre a China e os países de língua portuguesa. E também entre a China e a Europa”, afirmou.

Indagado sobre os obstáculos às relações bilaterais entre os referidos países, Marques referiu a barreira linguística e as diferenças culturais.

“Uma das questões que hoje se apresenta como crucial, é a necessidade de aproximar uma distância cultural que existe entre as culturas chinesa e europeia. Essa aproximação pode e deve ser feita por quem conhece a história e a cultura dos dois lados. E Macau, nesse aspeto, tem um papel também importante”, reforçou.

O fortalecimento do diálogo, defende, é a melhor forma de melhorar o entendimento mútuo. “E nesse aspeto, julgo que é muito importante a formação, o treino e a intermediação que Macau tenta fazer. Mas se calhar precisa de muitos mais meios e recursos, porque Macau é pequeno. É muito importante (…) atrair não só chineses formados em Macau, mas também gente dos países de língua portuguesa, que venham aqui estudar a língua e cultura chinesas, e assim ajudar a diminuir a questão das diferenças culturais”.

Nascido em Macau, Marques testemunhou também a evolução da China após o estabelecimento da política de reforma e abertura da China, em 1978.

“Tive esse privilégio de ver os primeiros passos de política de abertura da China e como esta região do Delta do Rio das Pérolas cresceu”, admite.

Salientando o sucesso que a política tem, não só para o desenvolvimento e crescimento da China, como também do ponto de vista internacional, Marques enfatizou o papel cada vez mais importante da China no panorama mundial após ter trazido uma nova valência e dimensão às relações internacionais.

O Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), que Marques dirige atualmente, foi constituído nos anos 90, resultante de um acordo de cooperação económica e comercial assinado entre Macau e a Comissão Europeia (na altura Comunidade Económica Europeia), e depois aceite pelo grupo de ligação entre Portugal e a China, para continuar depois de 1999. “O IEEM foi, assim, constituído para servir como ponte de cooperação cultural e educativa”, afirma.

Focado no ensino e investigação, o IEE tem tentado alargar as áreas de trabalho. “A nível de investigação, temos programas que hoje em dia não se dedicam apenas às questões Europeias ou da ligação da Europa com a China. A partir de há alguns anos começamos também a introduzir a investigação sobre Uma Faixa, Uma Rota”, explica. 

(Web editor: Renato Lu, editor)

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