Em comunicado distribuído após as prisões, os procuradores da Força-Tarefa encarregada da operação Unfair Play informaram que "as investigações avançaram de maneira significativa tendo sido colhidos elementos que comprovam, de maneira irrefutável, como se deu a operacionalização dos pagamentos e indicam a atuação de outros atores até então desconhecidos".
Segundo os procuradores, pelas provas colhidas "Carlos Nuzman e Leonardo Gryner foram os agentes responsáveis por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI (Comitê Olímpico Internacional), o que foi efetivamente feito por meio de empresas de Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur.
De acordo com as autoridades, a prisão temporária de Nuzman e Gryner é imprescindível não só como garantia de ordem pública, mas "como para permitir bloquear o patrimônio, além de impedir que ambos continuem atuando, seja criminosamente, seja na interferência da produção probatória".
Além do pedido de prisão, também foram cumpridos mandatos de busca e apreensão nas casas e empresas de Nuzman e Gryner e a quebra de sigilo de informações contidas em e-mails, como os trocados com dirigentes africanos e planilhas de custos e contabilidade do próprio presidente do COB.
Um dos fatos novos que chamaram a atenção dos investigadores foi o aumento expressivo de patrimônio do dirigente, ocorrido nos últimos 10 dos 22 anos de presidência do COB, durante os quais "Nuzman ampliou seu patrimônio em 457%, não havendo indicação clara de seus rendimentos, além de manter parte de seu patrimônio oculto na Suíça".
Um exemplo disso é o fato de que Nuzman só veio a declarar a posse de 16 barras de ouro, de 1 kg cada uma, que mantinha no exterior, à Receita Federal, por meio de retificação da declaração de imposto de renda, feita em 20 de setembro de 2017, ou seja, após a deflagração da Operação Unfair Play.
"Existe uma situação de ocultação dos recursos em poder do representado e em outros países, o que dificulta o rastreio desses recursos e consequente recomposição dos danos ao erário", afirma o comunicado.
"A atitude adotada em momento seguinte à deflagração da Operação Unfair Play demonstra obstrução das investigações sobre a ocultação patrimonial. Além disso, documentos apreendidos na residência de Nuzman demonstram que grande parte de suas contas é paga em espécie: um engendro característico do sistema de lavagem de capitais", explicaram os procuradores.
"Em razão das proporções mundiais do fato, o MPF requer, ainda, pelos danos morais causados, o bloqueio do patrimônio de Nuzman e Gryner em até 1 bilhão de reais", acrescentaram.