Ações unilaterais podem despoletar guerra comercial, defendem especialistas

Fonte: Diário do Povo Online    21.08.2017 09h44

A norma dos EUA usada para examinar as práticas comerciais de Beijing está demasiado desatualizada para fornecer medidas efetivas para aliviar o défice comercial com a China, defendem especialistas de ambos os países. A fricção do comércio internacional nunca poderá ser resolvida através de atos unilaterais, salientam.

O representante comercial dos EUA iniciou a investigação na sexta-feira sob a seção 301 da Lei do Comércio de 1974 (Trade Act 1974), examinando as políticas e práticas de propriedade intelectual da China. Esta ação foi levada a cabo quatro dias após Donald Trump ter assinado um memorando que autorizava o representante comercial a realizar uma investigação.

A ação dos EUA indica que as atuais relações econômicas e comerciais bilaterais estão "em uma encruzilhada", afirmou Wei Jianguo, vice-presidente do Centro de China para Intercâmbios Econômicos Internacionais, com sede em Beijing.

"A China precisa evitar que a administração Trump substitua as regras comerciais bilaterais, multilaterais e globais pelo unilateralismo comercial", reiterou o ex-vice-ministro do comércio ao jornal China Daily no domingo.

A "mentalidade da Guerra Fria" dos EUA é perigosa, pois "poderá resultar em recessão e caos no comércio global", acrescentou Wei.

"O desequilíbrio comercial é causado pela distribuição da cadeia de valor global e pela estrutura industrial diferenciada", explicou Bai Ming, pesquisador da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Econômica em Beijing.

Bai afirmou que a manufatura nos EUA tem um custo mais elevado do que na China, não tendo, portanto, vantagens na fabricação para competir com o gigante asiático. Contudo, tem uma vantagem notável no comércio de produtos e serviços de alta tecnologia.

"Tais sanções comerciais unilaterais para com a China não cessarão o progresso da globalização e essa ação só irá enfraquecer a capacidade das empresas de lucrarem em ambos os países", disse Bai.

"Ninguém pode forçar a China a obedecer a outros países na realização de atividades comerciais", adicionou.

A China alertou os EUA sobre as suas ações após a assinatura do memorando na semana passada. O Ministério do Comércio respondeu na terça-feira dizendo que a China tomará todas as medidas necessárias e adequadas para proteger os seus interesses econômicos e comerciais caso os EUA acusem injustamente o país de roubar tecnologia e propriedade intelectual dos EUA.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying, disse na semana passada que "qualquer membro da Organização Mundial do Comércio deve ter em consideração as suas normas ao tomar medidas comerciais".

"Tendo em conta os interesses cada vez mais convergentes entre a China e os EUA e o padrão de entrelaçamento entre os dois países, não haverá futuro ou vencedor, mas apenas perdedores em uma guerra comercial", advertiu.

Chad Bown, um pesquisador sênior do Instituto Peterson para a Economia Internacional, descreveu o uso da Seção 301 como a superação de uma lei de comércio americana desatualizada que permite ao presidente dos EUA impor unilateralmente tarifas em outro país.

A seção 301 atingiu o pico do seu uso pela administração Reagan, quando o atual Representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, atuou como vice representante comercial.

Bown reforçou que tal solução só piorará a situação, acrescentando que o uso de uma lei de comércio norte-americana mal aconselhada e obsoleta, provavelmente deslocará a atenção das ações da China para as próprias políticas da administração Trump.

O governo dos Estados Unidos realizou 122 investigações da seção 301 desde 1974. 

(Web editor: Renato Lu, editor)

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