Já sobre Ciro Gomes, que luta pelo legado da centro-esquerda, pode-se dizer que o mesmo saiu fortalecido desse pleito. Não porque seu partido, o PDT, tenha alcançado vitórias expressivas nessas eleições, com exceção do seu berço político, o estado do Ceará. Seu fortalecimento como candidato se deve principalmente ao vácuo deixado pelo fracasso do PT, tornando-o mais credenciado para liderar esse campo político que orbitou em torno da liderança de Lula.
A leitura mais incisiva deixada por essas eleições municipais foi o fenômeno da abstenção e dos votos brancos e nulos. Como demonstram os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o total desses votos, somado com as abstenções, superaram as votações obtidas pelos primeiros colocados em dez capitais brasileiras, incluindo-se aí alguns dos maiores colégios eleitorais do país como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Esses resultados mostram quão grande é a desconfiança de um número expressivo de eleitores brasileiros em relação à política vigente. Esse descrédito cresceu exponencialmente principalmente depois dos grandes protestos de julho de 2013. Caso haja a ampliação dessa tendência em 2018, a estrada do imponderável ficará ainda mais aberta.
Para os que já estão decididos e engajados, muitas vezes de forma anônima, na construção de um Brasil humanamente solidário, socialmente justo e ambientalmente saudável, o desafio é grande e exige firmeza.
José Medeiros da Silva - Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, em Hangzhou, e pesquisador convidado do Instituto Internacional de Macau.
Renato Henrique de Gaspi - Graduado em Relações Internacionais pela Facamp (Campinas, São Paulo) e mestrando também em Relações Internacionais pela Universidade de Zhejiang, em Hangzhou.