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Entrevista com Jorge Torres Pereira, embaixador de Portugal na China

Fonte: Diário do Povo Online    10.05.2016 14h30
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Jorge Torres Pereira, o embaixador de Portugal na China

No passado dia 5 de maio, data que assinala o Dia da Língua Portuguesa e dos Países da CPLP, o Diário do Povo Online entrevistou Jorge Torres Pereira, o embaixador de Portugal na China. O diplomata respondeu a algumas questões que se debruçam sobre temas variados das relações entre Portugal e a China. Cultura, educação, economia, história e Macau são apenas algumas das palavras-chave que definem o conteúdo da entrevista que se segue.

Diário do Povo Online: Em que medida a passagem pela Tailândia e pelo sudeste asiático o influenciaram profissionalmente enquanto diplomata na China?

Embaixador Jorge Torres Pereira: Não tinha verdadeiramente experiência asiática antes de ser colocado em Banguecoque, e estava também acreditado em outros cinco países do sudeste asiático. De certa maneira, foi uma espécie de aprendizagem muito útil para me familiarizar com algumas das questões que são mais próprias à região asiática. Apercebi-me também da importância das relações, a todos os níveis, de todos esses países do sudeste asiático com a China. Durante os anos em que estive em Banguecoque, a China também estava presente, mas do outro lado do binómio da relação bilateral. Quando cheguei a Pequim foi para continuar a lidar com os mesmos assuntos, mas desta vez da perspetiva de estar em Pequim e, portanto, de estar a assistir a uma espécie de rearranjo histórico global de imensa importância.

DPO: Em que medida a expansão da língua portuguesa na China se revela uma mais-valia para a China e para a lusofonia?

Embaixador Jorge Torres Pereira: Creio que os dados são bastante eloquentes. Não seria apenas por coincidência que o número de universidades chinesas que dão hipótese de aprender português está em expansão franca. Não seria também por coincidência que o número de diplomados é cada vez maior. Isto reflete-se em duas coisas. Por um lado a constatação que a língua portuguesa em si mesma tem uma importância pelo número de falantes, pelo dinamismo e por razões demográficas. Todos estes fatores nos levam a dizer que o português, efetivamente, é uma das línguas que está em expansão acelerada. Por outro lado, cada vez há mais laços económicos entre a China e os países de língua portuguesa. É um fenómeno que se intensificou muito nos últimos anos e, portanto, diria que se criou um mercado também. A aprendizagem da língua tem também, em muitos casos, um rationale de empregabilidade, de conseguir obter um emprego. As universidades chinesas em que eu estive referem-me sempre esse facto: os alunos que acabam a sua graduação em português, praticamente estão sempre garantidos de conseguir um emprego. Mais do que outras línguas. Porque nós, neste momento, estamos numa fase em que a aceleração da oferta de empregos para pessoas que falem português por parte de empresas, por exemplo chinesas, em Angola, no Brasil, ou em Portugal, está a crescer, mais até do que a própria oferta de graduados em português. É um mercado de emprego que favorece os recém-graduados.

DPO: Iniciativas de difusão da oferta educativa na China por parte de universidades portuguesas são, então, uma tendência em ascensão?

Embaixador Jorge Torres Pereira: Sim. Nós temos verificado que está a haver um aumento muito significativo do número de protocolos de cooperação celebrados entre instituições chinesas e instituições portuguesas. Isto significa que o conhecimento entre as autoridades académicas de instituições portuguesas e instituições chinesas é cada vez maior, e que o número de estudantes chineses também está a aumentar. Penso que isto é um ciclo virtuoso em que, juntamente com a outra contraparte simétrica que é a de nós, em Portugal, termos também acordado mais para aprendizagem do mandarim, para os primeiros passos que estão a ser dados fora do ensino universitário, e para a importância da abertura dos institutos Confúcio. Tudo isso é, digamos, um pano de fundo no qual a relação bilateral está a ser consolidada. Talvez mais importante para a consolidação a longo prazo de uma relação bilateral que é feita entre as populações, entre as pessoas. O intercâmbio de estudantes e de experiências é realmente fundamental.


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