China e América Latina devem reforçar os intercâmbios literário e cultural, diz Guillermo Pulido

Fonte: Diário do Povo Online    25.03.2016 14h15

O professor Guillermo Pulido, diretor do Centro de Estudos China-México da Universidade Nacional Autónoma do México, concedeu ontem (24) uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online durante o “Yenching Global Symposium” e falou sobre os intercâmbios da China com o México e com o restante dos países da América Latina. Para ele, a China e os países latino-americanos, para além do comércio e economia, precisam reforçar os intercâmbios culturais.

Diário do Povo Online - A China e o México têm vários desafios em comum. Como os dois países compartilham as suas experiências?

Guillermo Pulido - Eu acho que existe um diálogo entre os governos do México e da China para discutir precisamente este tipo de temas e sobre as experiências que cada um tem em seu país, além de compartilharem como seguir desenvolvendo as suas políticas, quais foram os acertos e os erros em cada um desses programas, uma vez que eles têm situações efetivamente similares. Entretanto, eu não diria similares em assuntos tão drásticos como violência, mas em assuntos como o combate à pobreza, desenvolvimento da classe média e taxas de crescimento econômico mais adequada. Ambos os países têm problemas em temas como poluição das águas, do mar e dos mares, então eu creio que ambos, através desses diálogos e das instituições acadêmicas, podem compartilhar esses desafios.

O senhor acha que a China e o México devem estreitar as relações bilaterais?

Claro, temos que pensar que as relações são muito novas. O conhecimento sobre a China no México está principalmente nas universidades. O desafio é muito grande, acho que temos que trabalhar muito mais, há muito mais para fazer! 44 anos de relações diplomáticas é muito pouco. Acho que as relações atravessaram momentos diferentes, mas todos de cooperação; alguns melhores que outros, mas hoje estamos num momento verdadeiramente extraordinário de enorme potencial. Pelo o que eu percebo, as relações do meu país com a China vão crescer muito mais em muitos outros campos de conhecimento.

Quais funções a literatura e o intercâmbio cultural desempenham?

A China tem grandes filósofos como Confúcio, Laozi e muitos outros que não tivemos de esperar esses 44 anos para conhecer. Se sabe sobre eles no México há muito tempo. Nas universidades mexicanas se ensina muito sobre a filosofia e a civilização chinesa, sobre muitos aspectos da história e cultura da China. Eu creio que o desafio não seja o de as universidades preparem mais jovens e mais profissionais, mas como podemos difundir mais o que é um país, um aspecto da cultura. O desafio é muito grande. Volto ao início. Se você não estudou o México ou se eu não estudei a China, o que vou te dizer é muito pouco, o que todo mundo sabe, não vou poder aprofundar...Taco ou futebol não são os únicos representativos do México. Escritores, literatura, artes plásticas, música...é sobre isto que temos de trabalhar para conhecermos uns aos outros e, a língua, que caracteriza um país. É sobre isto que temos de trabalhar.

Para muitos chineses, o México tem uma imagem um pouco negativa ligada a violência e ao tráfico de drogas. Por outro lado, os mexicanos também têm uma certa imagem negativa da China. O que devemos fazer para melhorar a nossa imagem?

Veja, há muitas formas de melhorar, mas a melhor é poder viver, constatar, testemunhar, caminhar pelas ruas, poder comer a comida, poder conhecer as pessoas. Eu acho que as agências como a que você trabalha têm de dizer coisas melhores sobre os nossos países, e não vender a notícia. Vender a notícia é uma coisa, falar sobre a cultura, sobre a civilização, sobre as pessoas, sobre você vivendo no México, no Equador…ou seja, compartilhar a experiência é outra coisa. Dos últimos 70 pesquisadores que vieram para a China pelo nosso instituto nesses últimos 3 anos, 70% vieram pela primeira vez ao país. Qual a imagem que levaram da China? Uma imagem maravilhosa! E o que vão fazer com essa imagem? Reproduzi-la! Isto porque eles são diretores, pesquisadores, professores.

Em relação ao seminário, como o senhor avalia o tema ‘A China se depara com o mundo, o mundo vem para a China’?

O tema escolhido é muito bom. Lembrou-me o lema das olimpíadas “um mundo, um sonho”. Eu acho que quanto mais conhecimento nós tivermos um dos outros, podemos criar um mundo muitíssimo melhor e quanto menos nos focar nos problemas pequenos poderemos pensar nos problemas que realmente desafiam um grupo de países ou à humanidade na sua integralidade. Eu gosto desse tipo de tema.

O simpósio é importante para conhecer a China?

Claro que sim, porque os alunos vêm de diferentes países, então é uma oportunidade extraordinária para que eles possam conhecer, através dos seus estudos na China, situações sobre a economia, cultura, politica, língua, meio ambiente...sobre a política atual, como está mudando a normalidade em vários campos, quais são os temas atuais. Eu creio que é muito importante porque vai fazer desses jovens verdadeiros embaixadores da cultura chinesa. 

(Editor:Renato Lu,editor)

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