Opinião: Os Jogos do Rio precisam de um período de tréguas na política

Fonte: Diário do Povo Online    21.03.2016 15h25

Por Zhou Zhiwei

A situação doméstica mirabolante do Brasil durante o ano de 2016 pode ser comparada a qualquer filme hollywoodesco. O ex-presidente Lula da Silva, inicialmente abordado pela Polícia Federal de forma coercitiva para prestar um depoimento, foi depois convocado pela Presidente Dilma Rousseff para entrar no seu governo como ministro da Casa Civil. Todo este processo não tinha ainda perfeito duas semanas, já a autoproclamada “Dama de Ferro do Brasil”, a própria presidente, testemunhava perante si a galopante ameaça da impugnação, mais conhecida pelo termo inglês “impeachment” no Brasil.

Ataques ferozes de opositores políticos, sucessivas condenações da imprensa, incessantes manifestações populares. A perseverante presidente parece lentamente estar dirigindo-se para um beco sem saída.

O escândalo de corrupção da Petrobras não só arruinou a imagem de um grupo de políticos de alta patente, como abalou os setores executivo, legislativo e judicial como nenhum outro episódio desde a restauração da democracia em 1985. O que dava mostras de ser um sistema político perfeitamente funcional, devido a: uma situação de obscuridade na atribuição de funções de intervenção do setor jurídico e da polícia federal na luta contra a corrupção; à abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados e subsequente condução ilegal do processo; ao grampo das chamadas telefónicas da presidente; à divergência judicial relativamente à idoneidade de Lula para o cargo de ministro que lhe fora atribuído, entre outros fatores, leva a crer que, como democracia jovem, o Brasil tem ainda um longo caminho a percorrer para solidificar as bases do seu sistema político, de modo a consolidar um desenvolvimento estável e salutar.

Mais passível ainda de alerta é a intervenção considerável das autoridades judiciais na condução de todo o processo, podendo causar uma maior clivagem entre os três poderes.

Neste momento, a interação e confronto aleatórios entre as várias forças políticas torna os desenvolvimentos da situação difíceis de prever. Tal como diz o jornalista britânico Jan Rocha, investigador de longa data do Partido dos Trabalhadores: “Quem disser ser capaz de conseguir prever a evolução do Brasil nos próximos meses, não tem qualquer credibilidade”. Porém, aquilo que se pode afirmar com certeza é que a celeuma em que se encontra o cenário político do país não poderá retomar a normalidade num curto espaço de tempo. Se por um lado, as fações que combatem pela continuidade do mandato da presidente e as que batalham pelo seu impeachment são equilibradas, por outro, como não há nenhuma entidade cuja influência ou poder sejam indiscutíveis, por mais que o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, tente avançar com a destituição de Dilma Rousseff, não há forma de prever o seu desfecho. Um outro dado a ter em conta é que, embora a eventual entrada de Lula no governo venha restabelecer o apoio dos aliados políticos, concomitantemente a ira das massas populares será alimentada. Esta, por sua vez, se refletirá diretamente na postura dos legisladores, sendo que os efeitos secundários acumulados são difíceis de prever.


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(Editor:Renato Lu,editor)

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