Os produtores de carnes processadas da China estão revoltados com o comunicado da Organização Mundial de Saúde, que rotula o bacon, as salsichas e outras carnes processadas como cancerígenas.
A imprensa refere que o relatório foi feito pela Agência Internacional de Pesquisa do Cancro e pela OMS.
Liu Jintao, vice-diretor de marketing da Shuanghui, o maior produtor de carne suína da China, disse que o relatório é “profundamente lamentável”.
“O relatório, embora alegue ser publicado por questões de saúde humana, é, de facto, inumano”, disse.
Liu Jintao prosseguiu dizendo que o ar, água e a carne são essenciais para o ser humano e que os seus efeitos secundários não devem ser exacerbados.
“A tecnologia de processamento de carne é parte da civilização humana e não deve ser destruida, sendo rotulada de ‘cancerígena’”, frisou.
De acordo com o relatório, carnes processadas – tais como salsichas, bacon, e outras carnes fumadas – encontram-se no grupo 1 dos cancerígenos devido às suas ligações com o cancro intestinal. Carnes vermelhas, tais como a carne bovina ou caprina, foram colocadas no grupo 2A como sendo “provavelmente cancerígenas para o ser humano”.
De janeiro a junho deste ano, Shuanghui vendeu 753,000 toneladas de carne processada e registou um volume de negócios de 20.3 biliões de yuans. Em 2013, a Shuanghui comprou a sua congénere americana, a Smithfield Foods, um passo que defeniu a maior aquisição de sempre da indústria alimentar chinesa.
O relatório, embora tenha contando com a oposição dos comerciantes de carne, causou preocupação generalizada.
“Embora nenhuma encomenda tenha sido cancelada, muitos dos consumidores telefonaram-nos para nos questionar relativamente à segurança do consumo de carne e vendas depois do relatório ter sido publicado na segunda-feira”, disse Ma Xiaozhong, diretor da Associação Industrial de Fumados de Jinhua.
A cidade de Jinhua, localizada na província de Zhejiang, é conhecida com a cidade natal do fiambre chinês, com uma história de mais de 2000 anos.
Ma disse que os chineses têm vindo a tomar cada vez mais atenção à sua dieta nos últimos anos, sendo que alguns evitam comidas conservadas.
Ma refere que na forma tradicional de produção de fiambre, apenas sal é acrescentado à carne. Contudo, para melhorar a qualidade, na indústria de processamento de carne moderna, nitrito é também acrescentado para prevenir a corrosão.
O diretor acredita que o alerta da OMS deve ser tido apenas como um conselho para aumentar a conciencialização para a nutrição.
Zhong Kai, um especialista de segurança alimentar, disse na terça-feira que o consumo de carne per capita na China varia entre as 50 e as 100 gramas, comparado com as 200 gramas nos EUA.
Contudo, a procura de carne na China tem potencial de crescimento na próxima década.
O aumento do consumo de carne na China durante os últimos anos tem-se devido ao aumento da classe média, e a indústria do ramo respondeu à procura, aumentando a produção.
Na segunda-feira, Zhengzhou, a capital da província de Henan, tornou-se no primeiro porto terrestre da China de carnes importadas, após receber o primeiro carregamento de carne de vaca congelada proveniente da Austrália por via aérea. Empresas de Henan, província com a maior base de produção de carne processada da China, acreditam que o transporte aéreo venha a aumentar as importações de carne.
Numa loja da cadeia alimentar Daoxiangcun em Pequim, os compradores encolheram os ombros face ao relatório. Uma mulher, de nome Li, encontrava-se a comprar salsichas. “Comer uma salsicha por dia não tem problema. Os relatórios são exagerados e alarmistas”, comentou.
Edição: Mauro Marques