Edivaldo, um homem idoso e magro, caminha todos os dias até sua pequena plantação de mandioca em Bragança, na região amazônica do Brasil. Ao arrancar uma raiz fina e curta, balança a cabeça em desapontamento. Ele cultiva a terra há dois anos, mas a baixa produtividade deste ano o obriga a abrir novas áreas na floresta ao redor.
A Amazônia brasileira, principal trecho da maior floresta tropical do mundo, abriga cerca de um terço de todas as espécies de plantas e animais do planeta e desempenha papel crucial na regulação do clima global. No entanto, a exploração humana ao longo dos anos reduziu significativamente sua extensão, despertando atenção internacional. Encontrar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental tornou-se um desafio compartilhado pelo Brasil e pelo mundo.
Com o apoio dos governos da China e do Brasil, foi lançado em 2020 um projeto de cooperação para a restauração de terras degradadas e o desenvolvimento sustentável da Amazônia e da Mata Atlântica.
Coordenado pela Universidade de Hohai, da China, em parceria com mais de dez universidades e empresas de ambos os países, incluindo a Universidade Federal Rural da Amazônia, a Universidade do Estado do Pará e outras instituições de pesquisa, o projeto busca recuperar terras agrícolas degradadas pelo cultivo extensivo e explorar modelos sustentáveis de agricultura na região.
O professor Chen Lihua, responsável pelo projeto do lado chinês, visitou várias vezes a Amazônia para pesquisas de campo. Ele observou que muitos pequenos agricultores ainda utilizam técnicas tradicionais de corte e queima, acrescentando que, na estação seca, costumam queimar árvores para usar as cinzas como fertilizante antes de plantar mandioca, milho e outras culturas.
"Embora eficaz a curto prazo, o método degrada rapidamente o solo, reduzindo sua fertilidade. Com o tempo, a produtividade cai, e os agricultores acabam sendo forçados a abandonar a terra e abrir novas áreas, alimentando um ciclo contínuo de desmatamento", disse Chen.
Para enfrentar esse problema, a equipe, baseada nas técnicas e linhas de produção chinesas, desenvolveu fertilizantes para recuperação do solo e realizou testes em culturas locais como mandioca, soja, açaí e cacau. Aplicando esses fertilizantes durante o ciclo de cultivo, conseguiram aumentar a fertilidade do solo e melhorar sua estrutura.
Os resultados foram significativos, com a produtividade das culturas crescendo entre 30% e 190%, a perda de microagregados do solo caindo cerca de 90% e a perda de nutrientes ao longo da estação sendo reduzida entre 65% e 82%, demonstrando que o modelo de "plantio aliado à recuperação do solo" é viável na Amazônia.
Chen explicou que, após a primeira colheita, a terra continua fértil e a segunda safra mantém rendimento próximo ao da primeira, provando que a recuperação do solo permite cultivo contínuo sem a necessidade de desmatar novas áreas.
Com a comprovação de que os solos degradados podem ser recuperados, a equipe sino-brasileira passou a focar na manutenção de longo prazo da fertilidade e no aumento da produtividade.
Um novo projeto introduziu a produção industrial local de fertilizantes de recuperação do solo, adaptando técnicas chinesas de compostagem de resíduos orgânicos à realidade amazônica. Isso permitirá que pequenos agricultores adquiram fertilizantes acessíveis e eficientes sem recorrer à queima da floresta, garantindo a fertilidade contínua de suas terras.
Segundo Herdjania Veras, ex-reitora da Universidade Federal Rural da Amazônia, a aplicação das técnicas chinesas de recuperação do solo para o ambiente agrícola específico da Amazônia promoverá de forma significativa o desenvolvimento sustentável da agricultura na região e contribuirá para a proteção sustentável da floresta amazônica.
Além disso, diante da forte variação entre a estação chuvosa e a seca, e da falta de irrigação e eletricidade em muitas áreas, a equipe desenvolveu, em parceria com empresas chinesas e universidades brasileiras, sistemas de irrigação movidos a energia solar. Os sistemas permitem extrair água com energia solar, aumentando a resistência da agricultura à seca, garantindo irrigação durante os períodos críticos e elevando a produtividade e a renda familiar.
Para que os agricultores da Amazônia alcancem desenvolvimento sustentável, é preciso não apenas produzir, mas também comercializar seus produtos.
O projeto busca criar pontes comerciais que conectem pequenos produtores da região a plataformas de comércio eletrônico chinesas e internacionais, ampliando os ganhos ao longo da cadeia produtiva. Agricultores como Edivaldo demonstram grande expectativa diante dessas perspectivas, que podem reduzir a necessidade de desmatar novas áreas para cultivo.
Os resultados alcançados demonstram que é possível conciliar agricultura produtiva e preservação ambiental. A parceria sino-brasileira em mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável se intensificou nos últimos anos, oferecendo à Amazônia um modelo de ganha-ganha que apoia os agricultores do Sul Global, limita o desmatamento e protege seu patrimônio ecológico, contribuindo para as metas climáticas globais.