Português>>Opinião

Zhou Zhiwei: Impulsionar o desenvolvimento econômico e promover a reforma da governança global são demandas comuns dos BRICS

Fonte: Diário do Povo Online    04.07.2025 10h53

Zhou Zhiwei

Nos dias 6 e 7 de julho de 2025, decorre no Rio de Janeiro, Brasil, a 17ª Cúpula de Líderes dos BRICS, atraindo grande atenção da comunidade acadêmica internacional. O destaque dessa reunião se deve, por um lado, à contínua expansão da rede de cooperação dos “BRICS ampliados”, cuja atratividade institucional e eficiência colaborativa se tornaram temas centrais nos debates acadêmicos. Por outro lado, em meio a mudanças no cenário internacional e aos obstáculos ao multilateralismo, a direção da “cooperação ampliada dos BRICS” tornou-se uma questão que exige reflexão urgente.

Enquanto experiência bem-sucedida de cooperação entre países emergentes, os BRICS não apenas promoveram avanços em sua cooperação interna, como também impulsionaram reformas parciais no sistema de governança global.

No entanto, diante do ambiente internacional em constante mudança — especialmente com a ampliação do "círculo de amigos" dos BRICS e a incerteza nas estruturas política e econômica globais —, é necessário reavaliar a missão comum e a direção cooperativa dos países BRICS.

Como linha da frente entre as economias emergentes, os BRICS possuem um imenso potencial de crescimento e são potências regionais com grande influência nas dinâmicas políticas e econômicas de suas respectivas regiões. Embora tenham surgido posteriormente diversos conceitos semelhantes, poucos atraíram atenção significativa ou exerceram a mesma influência dos BRICS em assuntos regionais e globais — o que evidencia a sua singularidade identitária.

Atualmente, a característica fundamental dos BRICS — a de serem os mais representativos entre os países emergentes — permanece inalterada. Os BRICS continuam sendo os blocos econômicos mais dinâmicos e influentes entre os emergentes. Deste modo, criar um ambiente internacional propício à cooperação, explorar o potencial e a eficiência da colaboração interna e manter a tendência de crescimento do poder nacional global são tarefas comuns que os BRICS devem enfrentar juntos.

A importância dos BRICS na governança global está crescendo continuamente. A criação de instituições financeiras multilaterais, como o Novo Banco de Desenvolvimento, e o aumento de sua representatividade no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional evidenciam a eficácia e a vitalidade da cooperação entre os BRICS. No futuro, os países do grupo continuarão fortalecendo sua coordenação para impulsionar mudanças no sistema internacional.

As mudanças atuais na estrutura internacional afetam vários níveis — nas relações entre grandes potências, no ecossistema político-econômico regional e nas relações internacionais como um todo —, com impactos profundos no mundo.

Em primeiro lugar, o avanço das novas revoluções científica e industrial elevou ainda mais a importância da competição e da cooperação tecnológica nas relações internacionais. Em segundo lugar, o avanço irresistível dos países emergentes e em desenvolvimento — com os BRICS à frente — impulsionará a evolução da nova ordem global, alterando a atual predominância dos países desenvolvidos nos assuntos globais.

Por fim, a retomada das tendências de "desglobalização" agrava os déficits de governança, desenvolvimento e confiança, representando desafios à paz e ao desenvolvimento mundiais.

Diante desse cenário, acredito que a cooperação entre os BRICS deve priorizar três aspectos principais:

1. Salvaguardar a segurança internacional e defender o multilateralismo

A segurança é a base do desenvolvimento, especialmente para as economias emergentes. Os BRICS devem ser uma força central na manutenção da paz mundial, na defesa do multilateralismo e na resistência ao unilateralismo. Devem também continuar promovendo reformas no sistema de governança global, como a reforma do sistema monetário internacional e o enfraquecimento da hegemonia do dólar.

2. Aprofundar a cooperação tecnológica.

O nível de desenvolvimento tecnológico é crucial para a sustentabilidade das nações emergentes. Os BRICS devem aproveitar as oportunidades trazidas pela nova revolução industrial, liberar o potencial da cooperação, buscar avanços em áreas de alta tecnologia e gerar resultados concretos em setores como comércio e investimento, economia digital, inteligência artificial e conectividade, promovendo um desenvolvimento de alta qualidade.

3. Promover intercâmbios culturais e construir uma rede de cooperação aberta.

O intercâmbio cultural oferece estabilidade à cooperação dos BRICS. O grupo deve continuar promovendo a integração de interesses com o "Sul Global", mantendo o princípio da cooperação baseada em interesses comuns. Isso permitirá aumentar sua representatividade e capacidade de liderança nos assuntos internacionais.

Os países BRICS fazem parte do chamado “Sul Global” e, ao mesmo tempo em que aprofundam sua cooperação interna, devem continuar a promover a convergência de interesses com os demais países do Sul Global. Ao manter uma cooperação baseada nos interesses comuns dessa região, os BRICS poderão exercer uma representatividade e liderança genuínas, aumentando assim a influência internacional de sua parceria.

(O autor é diretor do Departamento de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais e diretor executivo do Centro de Estudos Brasileiros)

comentários

  • Usuário:
  • Comentar: