Português>>Mundo Lusófono

Araras canindé retornam aos céus do Rio de Janeiro após mais de 200 anos extintas na região

Fonte: Xinhua    19.06.2025 13h43

Quatro araras canindé (Ara ararauna) foram reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, marcando o início de um processo histórico de repovoamento dessa espécie emblemática na cidade do Rio de Janeiro, onde havia desaparecido há mais de dois séculos, informou nesta quarta-feira o Ministério do Meio Ambiente.

A iniciativa faz parte do programa Refauna, apoiado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e diversos parceiros, em uma iniciativa para restaurar ecologicamente a Mata Atlântica, um dos biomas mais biodiversos e degradados do planeta.

As aves - um macho e três fêmeas - passarão por uma fase de aclimatação em um recinto especialmente construído dentro do parque, onde serão gradualmente expostas ao ambiente natural antes de sua soltura definitiva. Esta fase inclui a adaptação aos alimentos nativos, o estímulo ao comportamento de voo e a familiarização com ninhos artificiais projetados para a espécie. O processo foi precedido por avaliações de saúde e comportamento, com atenção especial ao bem-estar animal.

A arara canindé é uma espécie nativa amplamente distribuída pela América do Sul, mas foi extinta do estado do Rio de Janeiro há mais de duzentos anos, principalmente por causa da caça e da perda de habitat. O último registro confirmado de araras em vida livre no município do Rio foi no ano de 1818, de uma captura de Johann Natterer.

A ausência dessas aves significa mais do que o desaparecimento de um animal carismático: significa a interrupção de processos ecológicos essenciais, como a dispersão de sementes de grandes árvores que são fundamentais para a saúde da maior floresta urbana replantada do mundo.

"A Mata Atlântica perdeu muitas de suas espécies ao longo dos séculos. Mesmo onde há floresta, ela frequentemente é silenciosa e vazia. Ao retornar animais como as araras, restauramos funções ecológicas e sons, e ajudamos a natureza a se regenerar", explicou Marcelo Rheingantz, biólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor executivo da Refauna.

O gerente regional Sudeste do ICMBio, Breno Herrera, comemorou a chegada das aves como um marco para a conservação. "Saber que as araras estão retornando é um sinal para o Brasil e para o mundo de que nossas unidades de conservação estão cumprindo seu papel. O Parque Nacional da Tijuca, com sua integridade ecológica consolidada, oferece os recursos necessários para esses animais. Após a reintrodução bem-sucedida de araras, cutias e araras-tinga, agora damos as boas-vindas às araras. Elas são um símbolo de esperança para o retorno de outras espécies que também possam retornar às nossas florestas", afirmou.

Durante o período de aclimatação, as araras serão alimentadas duas vezes ao dia, com observação constante de seu comportamento, interação social, capacidade de voo e condição física. Após a soltura, o que está previsto para ocorrer em cerca de seis meses, os cientistas continuarão fornecendo alimentação suplementar por meio de plataformas suspensas, além de monitorar a saúde e o comportamento dos indivíduos.

As aves chegaram do Refúgio de Aves, localizado no Parque dos Três Pescadores, em Aparecida, São Paulo. Trata-se de um centro de reabilitação de animais silvestres, onde os animais não apresentam comportamentos domesticados. "O trabalho de reabilitação é uma ferramenta poderosa para conservar a biodiversidade e prevenir a extinção não só de espécies, mas também de suas funções ecológicas", explicou Juliana Fernandes, bióloga do programa Refauna.

O Refauna é um programa de restauração ecológica iniciado em 2010. Essa iniciativa responde a um desafio global da conservação: o combate à defaunação - a perda de espécies animais. Segundo estudos, a ausência de fauna compromete a manutenção da floresta e o funcionamento do ecossistema, mesmo em áreas protegidas.

A presença de araras no Rio de Janeiro é documentada desde o século XVI e já fez parte da paisagem natural da Mata Atlântica.

comentários

  • Usuário:
  • Comentar: