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Brasileiro Sebastião Salgado, ícone mundial do fotojornalismo, morre aos 81 anos

Fonte: Xinhua    26.05.2025 13h31

O brasileiro Sebastião Salgado, um dos mais importantes expoentes da fotografia documental do mundo, morreu aos 81 anos, no dia 23 de maio, em Paris, onde residia, vítima de uma grave leucemia, causada por malária contraída em 2010, confirmou a família.

A nota acrescentou que, por seu trabalho fotográfico, com o qual "lutou por um mundo mais justo", Salgado "viajava por todo o mundo", o que o levou a contrair "uma forma rara de malária" na Indonésia em 2010, enquanto trabalhava no projeto Gênesis. "Quinze anos depois, as complicações desta doença resultaram em uma leucemia grave, que acabou por vencê-lo".

"É com grande tristeza que comunicamos o falecimento de Sebastião Salgado. Durante mais de cinco décadas, Sebastião e sua inseparável companheira Lélia Wanick Salgado construíram uma obra fotográfica inigualável, com um conteúdo profundamente humanista e um olhar sensível sobre as populações mais desfavorecidas e os problemas ambientais que ameaçam nosso planeta", diz a nota.

Nascido em Minas Gerais em 1944, e economista por formação, Salgado começou a fotografar no início da década de 1970 na França, onde vivia desde então, e nunca mais parou.

Trabalhou para as agências Sigma, Gamma e Magnum. O brasileiro tornou-se mundialmente famoso por sua cobertura em preto e branco de conflitos e alguns dos maiores dramas que afetam a humanidade, como migrações, pobreza e destruição ambiental.

Atualmente, as fotos de Salgado fazem parte das coleções de numerosos museus e instituições importantes ao redor do mundo.

Projetos marcantes como Trabalhadores, Êxodos e Gênesis mostram a visão profunda de Salgado sobre as mudanças na sociedade, as migrações globais e a natureza intocada, como no projeto Gênesis.

Sua foto mais famosa em todo o mundo foi feita em Serra Pelada, no coração da floresta amazônica, no leste do Pará, que ficou conhecida como o maior garimpo de ouro a céu aberto do mundo.

A foto foi incluída pelo jornal "The New York Times" em uma seleção de 25 imagens que definem a modernidade desde 1955, ao destacar a escala impressionante e a força visual da composição, registrada em 1986.

Em uma entrevista sobre a obra, Salgado disse ter ficado profundamente impactado com o cenário."Eu nunca vi nada parecido. Vi passar diante de mim, em frações de segundo, a história do humano, da humanidade, a Torre de Babel", afirmou.

Era imortal da Academia de Belas Artes da França desde 2017. E ao longo de mais de cinco décadas de carreira, recebeu os mais importantes prêmios da fotografia mundial. Dentre eles, o Prêmio W. Eugene Smith de Fotografia Humanitária; o World Press Photo; o Hasselblad, e foi o primeiro fotógrafo a receber o Príncipe de Astúrias das Artes, na Espanha.

Em 2014, foi protagonista do documentário indicado ao Oscar "O Sal da Terra", codirigido pelo cineasta Wim Wenders, e pelo filho de Salgado, Juliano, sobre suas viagens a lugares como o Círculo Polar Ártico e Papúa Nova Guiné, que fizeram parte de seu livro 'Genesis', de 2013.

Outras fotografias de Salgado transcenderam o mundo por documentarem a vida na floresta amazônica, os povos indígenas e as consequências das mudanças climáticas nos continentes.

"Sebastião foi muito mais que um dos grandes fotógrafos do nosso tempo. Junto com sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, ele semeou esperança onde havia devastação e fez surgir a ideia de que a restauração ambiental também é um profundo gesto de amor à humanidade", relatou o Instituto Terra, uma organização de reflorestamento em Aimorés, no estado de Minas Gerais (Brasil), fundada por ele e que já plantou mais de 3 milhões de árvores.

A notícia da morte de Sebastião Salgado foi divulgada rapidamente em todo o mundo e gerou dezenas de homenagens.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pediu um minuto de silêncio ao tomar ciência do falecimento durante uma declaração à imprensa no Palácio do Planalto, ao lado do presidente da Angola, João Lourenço, que está em visita oficial ao Brasil.

"A gente ficou sabendo de uma notícia muito triste. Eu até queria em uma homenagem pedir um minuto de silêncio, pela morte do companheiro Sebastião Salgado. Certamente, se não o maior, um dos maiores e melhores fotógrafos que o mundo já produziu", disse Lula.

Mais tarde, o presidente divulgou uma nota na qual destacou o "inconformismo com o fato de o mundo ser tão desigual e seu talento obstinado em retratar a realidade dos oprimidos serviu, sempre, como um alerta para a consciência de toda a humanidade".

"Salgado não usava apenas seus olhos e sua máquina para retratar as pessoas: usava também a plenitude de sua alma e de seu coração. Por isso mesmo, sua obra continuará sendo um clamor pela solidariedade. E o lembrete de que somos todos iguais em nossa diversidade."

Ainda não há informações sobre o velório. Ele morava com a mulher, Lélia Salgado, e o filho Rodrigo, em um apartamento em Paris, perto da Praça da Bastilha. O estúdio dele na cidade guarda um acervo com mais de 500 mil imagens.

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