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China amplia isenção de vistos à América Latina, com impacto além do turismo

Fonte: Xinhua    22.05.2025 08h27

"A partir de junho deste ano, os chilenos podem visitar a China sem visto! Aguardo ansiosamente a visita da minha família em breve", Carolina Araya, de nacionalidade chilena, compartilhou o que chamou de 'ótima notícia' em seu WeChat Moments. Muitos de seus amigos curtiram sua mensagem.

Atualmente trabalhando como instrutora de língua espanhola na Universidade de Estudos Internacionais de Anhui, no leste da China, Araya relembrou uma visita de seus pais há quase seis anos. "Espero realmente que eles possam vir ainda este ano", disse ela.

Liang Qing (E), professora de língua chinesa no Instituto Confúcio da Pontifícia Universidade Católica do Peru, instrui uma estudante peruana a escrever caligrafia chinesa em Lima, capital do Peru, em 22 de abril de 2025.

Além disso, não são apenas os chilenos que se beneficiarão. A partir de 1º de junho de 2025, a China expandirá seu acesso sem visto para incluir também cidadãos do Brasil, Argentina, Peru e Uruguai, com um período de teste que durará até 31 de maio de 2026.

Os portadores de passaportes comuns dessas cinco nações latino-americanas poderão entrar sem visto na China por vários motivos -- incluindo viagens de negócios, turismo, visitas familiares, intercâmbios culturais ou simplesmente trânsito -- por no máximo 30 dias, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China em uma recente coletiva de imprensa.

Apresentada na quarta reunião ministerial do Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em Beijing no início deste mês, essa política está alinhada com a iniciativa mais ampla da China de estender as isenções de visto e promover intercâmbios amigáveis com mais países da América Latina e do Caribe.

POSSÍVEL CORRERIA DE VIAGENS

Filipe Porto, um acadêmico brasileiro que passou mais de um ano na China, disse que o país provavelmente se tornará a primeira opção de viagem ao exterior para sua mãe de 52 anos.

"Minha mãe nunca viajou para o exterior", disse Porto, que é pesquisador de relações internacionais da Universidade Federal do ABC, Brasil. Ele também está aguardando ansiosamente a chegada de seus amigos brasileiros, que, segundo Porto, costumavam achar o processo de solicitação de visto algo trabalhoso.

Situadas em lados opostos do globo, as viagens entre a América Latina e a China já apresentaram desafios significativos, decorrentes não apenas das complexidades dos vistos, mas também das grandes distâncias. Hoje em dia, no entanto, o aumento da conectividade aérea, juntamente com a flexibilização das restrições de visto, aproximou muito mais essas terras distantes.

Nicolas Billot-Grima (E), cofundador da Stone and Moon Treasury Wine Estates, degusta vinho com Federico Carabajal, um enólogo argentino, numa adega na cidade de Qingtongxia, Região Autônoma da Etnia Hui de Ningxia, noroeste da China, em 7 de agosto de 2024.

Em 2024, foi lançado um voo direto conectando a Cidade do México e Shenzhen, no sul da China. Cobrindo mais de 14 mil quilômetros, é a mais longa rota internacional direta de passageiros da China.

Outras rotas, como Beijing-Madrid-São Paulo, Beijing-Madrid-Havana e Beijing-Tijuana-Cidade do México, também fortaleceram os vínculos entre a China e a América Latina e o Caribe (ALC).

Dados de plataformas de viagens online mostram um enorme potencial para o turismo receptivo dos cinco países latino-americanos que em breve terão status de isenção de visto. Este ano, a Ctrip, uma das principais plataformas chinesas de viagens online, registrou um crescimento anual de 168% nos pedidos de turismo receptivo da Argentina, enquanto os pedidos do Brasil e do Chile tiveram um crescimento superior a 80%.

Qin Jing, vice-presidente da Ctrip, disse que o teste da política de isenção de vistos da China com países como o Brasil não só provocará um aumento no fluxo de turismo transfronteiriço, mas também servirá como um passo inovador na promoção de um diálogo cultural mais profundo e valores compartilhados entre a China e as cinco nações latino-americanas. "Podemos esperar que o mercado de turismo receptivo dê início a um padrão novo, dinâmico e recíproco em um futuro próximo", disse ela.

Federico Carabajal, um enólogo argentino de 32 anos, passou mais de um ano trabalhando na Stone and Moon Winery na Região Autônoma da Etnia Hui de Ningxia, no noroeste da China. Durante esse tempo, ele explorou várias cidades chinesas, incluindo Beijing, Shanghai, Chengdu e Chongqing, no sudoeste da China, e Xi'an, no noroeste.

"A China está se abrindo ainda mais para o mundo. O país está tentando mostrar sua rica cultura, história, culinária, tecnologias e cidades inteligentes para o mundo", disse Carabajal. "Além disso, viajar na China é muito seguro. Ainda, é muito mais barato do que em muitos outros países."

IMPACTO ALÉM DO TURISMO

Tiva Bezerra, chefe de recursos humanos da Suzano Asia, uma grande produtora brasileira de celulose, acredita que a isenção de visto poderia melhorar significativamente a forma como a empresa opera seus projetos locais.

"Imaginamos que isso possibilitará intercâmbios técnicos mais espontâneos, visitas de executivos mais tranquilas e, potencialmente, tornará as missões na China mais atraentes para os profissionais latino-americanos", disse Bezerra.

Gabriel Martin, um empresário do Uruguai, exibe o bife que acabou de preparar na churrascaria LOKO, na cidade antiga de Wuhu, na província de Anhui, no leste da China, em 20 de junho de 2024.

Gabriel Martin, um empresário uruguaio que possui duas churrascarias e também gerencia um empreendimento de importação de carne bovina na China, saudou a mudança como um potencial impulso para seus negócios, porque isso significa mais clientes.

"A China é um dos melhores países em termos de serviços comerciais", observou Martin. "O povo chinês é caloroso e acolhedor. Além disso, é surpreendente como o país é bem organizado, considerando sua vasta extensão e população densa."

A expansão contínua da política de isenção de vistos da China e os esforços para facilitar as entradas enviam um sinal claro do compromisso do país com a abertura de alto padrão, de acordo com Yu Haibo, professor associado especializado em gestão de turismo da Universidade Nankai, sediada em Tianjin.

Yu acrescentou que essas medidas demonstram a determinação e os esforços da China para promover uma forma mais dinâmica, inclusiva e resiliente de globalização econômica.

Ao longo dos anos, a China tem contribuído consistentemente para promover a cooperação e os intercâmbios com os países da ALC, com a última década testemunhando um progresso notável desde a inauguração do Fórum China-CELAC.

Trabalhadores processam cerejas numa fábrica em Mostazal, Chile, em 13 de dezembro de 2024.

Nos últimos dez anos, o comércio entre a China e os países da América Latina e do Caribe dobrou, atingindo o impressionante valor de US$ 518,4 bilhões em 2024.

Os produtos chineses, incluindo seus veículos elétricos característicos, são amplamente exportados para os países da ALC, enquanto os produtos originários da região também são muito populares na China. Em especial, as cerejas do Chile e a carne bovina da Argentina entraram na dieta regular dos lares chineses.

Sun Yanfeng, pesquisador do Instituto de Estudos Latino-Americanos, sob o Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas da China, disse que os países latino-americanos esperam expandir as exportações em suas relações econômicas e comerciais com a China. A política de isenção de visto facilitará significativamente o processo de visita de empresários latino-americanos à China, especialmente os de pequenas e médias empresas.

Além da política de isenção de vistos, a recente reunião ministerial do Fórum China-CELAC também anunciou um conjunto de outras iniciativas, como o apoio a 300 projetos de impacto relativos à subsistência de pequena escala, o aprimoramento da cooperação em educação vocacional, a promoção do ensino da língua chinesa e a facilitação do diálogo sobre turismo.

Para Araya, a isenção de visto beneficiará significativamente os estrangeiros que estudam chinês e os estudantes chineses que estão aprendendo espanhol ou português, dois idiomas amplamente utilizados na América Latina. "Podemos estar do outro lado do mundo, mas agora podemos nos aproximar", disse ela.

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