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Aumento do número de mães solteiras reflete mudança no perfil das famílias chinesas

Fonte: Diário do Povo Online    16.05.2025 14h39

Antes definido pela tradição, o conceito de família moderna na China está evoluindo à medida que mais mulheres optam por viver como mães solteiras, equilibrando responsabilidade com liberdade.

De acordo com estatísticas do Ministério de Assuntos Civis da China, quatro anos atrás havia aproximadamente 30 milhões de mães solteiras no país. Dentre as famílias em que os pais se divorciaram, apenas um em cada seis pais opta por criar os filhos, o que significa que 83% dessas famílias são chefiadas por mães solteiras, mostram os dados.

"O aumento da taxa de divórcios é em grande parte impulsionado pela crescente autoconsciência”, disse Li Jiao, psicóloga de aconselhamento, acrecentando que a desconexão emocional presente na era digital é um fator agravante.

O apoio da sociedade às mães solteiras continua insuficiente, lamentou Li. Quase duas em cada três, ou 64,6%, das mães solteiras hesitam em revelar sua condição de mães solteiras, de acordo com o relatório de 2018 "Condições de Vida e Necessidades de Mães Solteiras em Dez Cidades". Isso se deve principalmente ao medo de serem julgadas ou criticadas por aqueles ao seu redor, disseram as entrevistadas.

Quando se trata de reconhecer abertamente que seus filhos são de uma família monoparental, 50,5% das mães solteiras temem que seus filhos sejam vistos como imperfeitos, enquanto 37,7% teme que seus filhos sofram exclusão social por colegas de classe.

"Mães solteiras enfrentam vários desafios psicológicos importantes após o divórcio: dúvidas internalizadas devido ao preconceito social, isolamento emocional pela perda do parceiro e profunda culpa pelo bem-estar dos filhos", explicou Li.

A psicóloga acredita que, para melhor apoiar as mães solteiras após o divórcio, a sociedade precisa redefinir as normas familiares, estabelecer serviços comunitários relevantes, implementar linhas diretas de aconselhamento psicológico lideradas pelo governo e introduzir intervenções preventivas.

Guo Jia, de 40 anos, é uma das mulheres independentes que desafiam estereótipos tradicionais. Fundadora da Shomiux, uma empresa de comunicação cultural, e líder do Mei Club, um clube feminino em Beijing ela lembra que a decisão de se divorciar em 2019 não foi tomada de ânimo leve.

Ao ponderar o "custo-benefício" de seu casamento, Guo percebeu que, embora tivesse crescido e evoluído, seu parceiro permanecia estagnado. Com valores diferentes, ela se viu incapaz de aceitar o status quo.

A terapia e uma forte rede de apoio a ajudaram, garantindo que ela permanecesse mentalmente forte para si mesma e para seu filho.

Cheng Kaixi, 37, profissional global de marketing e comunicação de uma empresa de tecnologia de publicidade sediada em Guangzhou, província de Guangdong, concilia uma carreira de alta pressão com a maternidade.

Ela lembra que a decisão de terminar seu casamento de oito anos não foi fácil, a parte mais difícil foi explicar a situação para sua filha e seu filho, hoje com 11 e 6 anos, respectivamente.

Deixar o casamento não exigiu tanta "reconstrução" quanto o esperado, no entanto, a dificuldade financeira aumentou à medida que ela se tornou a única provedora da filha e dos pais idosos. O menino está sob os cuidados do pai.

Cheng acredita na importância de manter o senso de identidade e destacou a importância do equilíbrio entre vida pessoal e familiar.

"Tempo pessoal é essencial. Tiro pelo menos meio dia de cada fim de semana para mim — seja lendo em um café, fazendo aulas de tênis ou tomando uns drinques com os amigos. Esses momentos me recarregam e me ajudam a continuar sendo uma pessoa realizada, não apenas uma mãe", disse Cheng.

Gu Xiaodan, advogada do escritório Shanghai Golden Trust Law Firm, possui vasta experiência em direito de família e testemunhou em primeira mão os obstáculos enfrentados por mães solteiras. Com o aumento da taxa de divórcios, a maternidade solteira não é mais vista como algo incomum, afirmou.

"Um dos maiores desafios que as mães solteiras enfrentam é a aplicação inadequada das decisões sobre pensão alimentícia", disse Gu.

"As leis de casamento hoje se concentram mais na proteção dos bens originais e dos direitos dos menores, em vez de enfatizar apenas as estruturas familiares tradicionais", disse Gu, que observou uma mudança na forma como os tribunais lidam com os casos de divórcio, refletindo mudanças sociais mais amplas nas atitudes em relação às mães solteiras.

Embora reconheça o progresso, Gu enfatizou que ainda há espaço para melhorias.

"A lei fornece uma estrutura para a justiça, mas o verdadeiro apoio vem da comunidade. Mais iniciativas — como assistência jurídica acessível, serviços de aconselhamento e políticas no local de trabalho que acomodem mães solteiras — são necessárias para realmente empoderá-las ", disse ela.

Em última análise, Gu acredita que mães solteiras não devem ser vistas apenas como indivíduos que precisam de proteção legal, mas como mulheres fortes e independentes que merecem reconhecimento e apoio. "O divórcio não é o fim da estabilidade — pode ser o início de um novo capítulo, autodeterminado", ponderou ela.

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