À medida que o sol da manhã ilumina as margens do rio Limpopo, na Província de Gaza, em Moçambique, espigas de arroz dourado balançam suavemente com a brisa. Entre os talos curvados e carregados de grãos, o agricultor Gerson João está ocupado trabalhando.
"Sem esta terra, eu não poderia arcar com as despesas para enviar meus dois filhos à universidade", disse ele.
Gerson é um dos 353 pequenos agricultores parceiros da Wanbao, uma fazenda moderna de arroz com investimento chinês no sul de Moçambique. Seu campo de 2,7 hectares rendeu quase 100 mil meticais (US$ 1.565) nesta safra, valor suficiente para pagar as mensalidades dos filhos e sustentar sua família.
Lançada em 2011 em Xai-Xai, capital provincial de Gaza, a Wanbao recebeu apoio posterior do Fundo de Desenvolvimento China-África. Com cerca de 20 mil hectares de terra, incluindo aproximadamente 3.333 hectares de arrozais, é uma das maiores operações modernas de cultivo de arroz na África, produzindo 16 mil toneladas de arroz anualmente.
Após anos de experimentação, a fazenda estabeleceu um modelo de cooperação consolidado. As famílias locais recebem terra, sementes, fertilizantes, treinamento técnico e apoio financeiro, enquanto a empresa compra suas colheitas sob contratos pré-acordados. Como resultado, a produtividade média saltou de uma a duas toneladas por hectare para cinco a sete toneladas, e a eficiência do uso da terra cresceu dez vezes.
Angélica Mavuie, mãe e viúva, entrou no projeto em 2018 com apenas um hectare de terra. Sua primeira colheita lhe rendeu mais de 60 mil meticais (US$ 940 dólares). "Depois que meu marido faleceu, eu não tinha como sustentar minha família", lembrou. Graças aos ganhos, ela conectou eletricidade e água em casa e concluiu uma obra que estava paralisada há muito tempo. No ano passado, ela faturou quase 130 mil meticais (US$ 2.034), valor que lhe permitiu comprar cimento, móveis e roupas novas para os filhos.
"Agora, minha casa parece exatamente como meu marido sonhou", disse ela, orgulhosa.
Os anciãos da comunidade também elogiam a dedicação da equipe chinesa. "Eles nos ensinaram a plantar, a manejar a terra e a aumentar a produtividade", afirmou Fabião Matsolo, chefe da aldeia. Durante as enchentes do ano passado, ele recorda que o pessoal chinês trabalhou dia e noite para reparar canais de irrigação e proteger os campos. "Mesmo quando não entendíamos suas palavras, usavam gestos para explicar tudo com paciência", contou.
Segundo Armando M. Ussivane, gerente da Empresa de Irrigação do Baixo Limpopo, a Wanbao introduziu variedades chinesas de arroz de alto rendimento e insumos modernos, ao mesmo tempo em que trabalhava em parceria com técnicos locais para orientação de campo. Alguns agricultores já adquiriram capacidade para gerir a produção e as vendas de forma independente.
Para Shao Jiayun, diretor-geral da Wanbao, a fazenda emprega 156 funcionários locais em tempo integral e mais de mil trabalhadores sazonais nos períodos de pico. Desde o início do projeto, a empresa já capacitou mais de 2 mil agricultores e trabalhadores rurais. Com um fornecimento anual de arroz local entre 12 mil e 15 mil toneladas, o que representa cerca de 6% da produção interna de Moçambique, a fazenda contribui de forma significativa para a segurança alimentar nacional em um país que ainda importa mais do que o dobro de sua produção doméstica.
Diante das vastas plantações, Matsolo disse simplesmente, "Com Wanbao aqui, nunca mais passaremos fome".