A abordagem da China na promoção da cultura oceânica em diferentes setores - seja educação, economia azul, governança ou engajamento social - tem sido inspiradora, disse Ronaldo Christofoletti, professor da Universidade Federal de São Paulo e presidente do Grupo Mundial de Especialistas em Cultura Oceânica da UNESCO, em uma entrevista recente à Xinhua.
Ao discursar na primeira Conferência Internacional de Cidades Costeiras da Década do Oceano em Qingdao, leste da China, em 26 de fevereiro, Christofoletti destacou como as cidades brasileiras, especialmente Santos, estão lidando com os desafios oceânicos por meio de educação, iniciativas políticas e engajamento da sociedade.
A primeira Conferência Internacional de Cidades Costeiras da Década do Oceano contou com 400 participantes, incluindo cientistas, formuladores de políticas e líderes do setor, para discutir a adaptação às mudanças climáticas, o gerenciamento de recursos marinhos e a economia azul. Uma sessão de mesa redonda contou com representantes do Brasil, China, França e outras nações costeiras, que trocaram opiniões sobre o equilíbrio do desenvolvimento econômico e conservação marinha por meio de avanços científicos e tecnológicos.
Christofoletti apresentou a sua pesquisa do caso de Santos, demonstrando como a cidade portuária brasileira adotou uma abordagem baseada em condições locais para promover a cultura oceânica.
Em 2017, foi lançado em Santos um projeto piloto integrando a conscientização pública a um plano de ação de biodiversidade, explicou ele, acrescentando que a iniciativa combina esforços do governo e da sociedade para aumentar a eficácia dos programas.
A cultura oceânica abrange a conscientização pública, a defesa de políticas e os esforços práticos para a proteção e utilização dos oceanos. Em novembro de 2021, Santos se tornou a primeira cidade do mundo a incorporar a cultura oceânica nos currículos nacionais por meio de políticas públicas.
No mesmo ano, o Brasil criou a Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, uma iniciativa de múltiplas partes interessadas que envolve agências governamentais, participantes do setor privado e a sociedade civil. Essa iniciativa está alinhada com os objetivos da Década dos Oceanos da ONU, promovendo a cultura oceânica e o desenvolvimento sustentável em todo o país.
"É essencial adaptar as cidades para minimizar os impactos das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, implementar sistemas que fortaleçam a sustentabilidade do oceano. Esse processo contribui diretamente para a mitigação dos impactos climáticos e a construção de ambientes mais resilientes", indicou ele.
A cidade costeira de Qingdao, na China, adotou uma visão semelhante. Meng Qingsheng, diretor do Departamento de Desenvolvimento Oceânico de Qingdao, enfatizou que a Conferência Internacional das Cidades Costeiras da Década do Oceano oferece uma plataforma valiosa para a cooperação internacional, permitindo que Qingdao compartilhe a sua experiência em ciências, cultura e indústria oceânicas.
Como parte do seu compromisso mais amplo com a governança oceânica, a China lançou o Centro de Cooperação Internacional "Década do Oceano" na Nova Área de Xihai'an (Costa Oeste) em Qingdao em fevereiro de 2023, solidificando ainda mais a sua liderança em assuntos oceânicos globais.
Segundo um documento divulgado em 24 de fevereiro pelo Ministério dos Recursos Naturais da China, o PIB da economia marítima da China atingiu 10,54 trilhões de yuans (US$ 1,46 trilhão), marcando um crescimento anual de 5,9%. Isso ressalta o forte impulso da China no desenvolvimento da economia azul, abrangendo a utilização de recursos marinhos, a inovação tecnológica e a colaboração internacional.
A China e o Brasil também fortaleceram sua parceria em setores relacionados aos assuntos marítimos, incluindo gestão de recursos, infraestrutura portuária, proteção ambiental e treinamento pessoal. Especialistas acreditam que há um grande potencial para o aprofundamento da cooperação oceânica entre os dois países.
O Brasil enfrenta desafios como o aumento da temperatura dos oceanos, eventos climáticos extremos, poluição offshore e perda de biodiversidade - todos exacerbados pela mudança climática. Essas ameaças afetam a agricultura, a pesca e as economias costeiras, tornando a governança oceânica uma prioridade nacional.
"Cuidar do oceano é cuidar das nossas cidades, da nossa saúde e do nosso futuro," enfatizou Christofoletti.
Conforme ele, iniciativas globais como as Escolas Azuis desempenham um papel central nesse processo e possuem grande sinergia com iniciativas semelhantes da China, abrindo um vasto campo para o fortalecimento de trocas e parcerias internacionais na proteção oceânica.