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Brasil e China, 50 anos compartilhando benefícios e promovendo a amizade

Fonte: Diário do Povo Online    14.08.2024 09h41

José Medeiros da Silva*

Este ano de 2024 celebram-se os 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a República Popular da China e a República Federativa do Brasil. Momentos comemorativos como esses são oportunos para relembrarmos o ponto de partida, refletirmos sobre benefícios mútuos e, diante dos desafios do tempo presente, procurarmos no vasto horizonte a direção mais propícia para uma continuidade segura dessa jornada.

A divisão do mundo em dois grandes blocos de poder era para as grandes nações que almejavam um caminho de desenvolvimento próprio uma realidade geopolítica asfixiante. Ou seja, a necessidade de uma ordem internacional multipolar apresentava-se já naquele momento em que o Brasil e a China decidiram estabelecer suas relações diplomáticas como uma questão fulcral de convergência estratégica.

Em 1971, depois que a República Popular da China recuperou seu lugar legítimo na ONU e assumiu sua vaga como membro permanente no Conselho de Segurança, a mudança do cenário geopolítico internacional começou a se tornar mais papável. Do lado brasileiro, um dos grandes intérpretes desse potencial de mudança na conjuntura internacional foi Antonio Francisco Azeredo da Silveira, ministro das Relações Exteriores no governo de Ernesto Geisel, aliás, um dos principais artífices do estabelecimento das relações diplomática com a China. Para Azeredo, havia uma convergência de interesses estratégicos mais profundos, além de necessidade do Brasil construir seu próprio conhecimento próprio sobre a China.

Do lado chinês essa convergência de interesses estratégicos também estava muito clara. Não se tratava de um relacionamento qualquer, mas de uma aproximação estratégica entre os dois importantes países em via de desenvolvimento.

Em essência, tanto do lado brasileiro quanto do lado chinês estavam convencidos de que o diálogo, a cooperação e um trabalho conjunto entre esses dois importantes países em via de desenvolvimento era um imperativo estratégico para se romper com a bipolaridade e para que ambos pudessem avançar de forma soberana na construção de seus próprios projetos de desenvolvimento.

A título de ilustração, essa trajetória de 50 anos poderia ser dividida em cinco etapas. Aliás, sobre as quatro primeiras etapas, tomo por referência a divisão feita por Chen Duqing, ex-embaixador da China no Brasil.

A primeira dessas etapas, entre 1974 e 1985, foi a de conhecimento mútuo. Para o embaixador Chen, o encontro entre Deng Xiaoping e o presidente João Batista Figueiredo impulsionou o desenvolvimento das relações. Sobre essa viagem do presidente Figueiredo à China em maio de 1984, ele fez uma interessante observação: “Em certo sentido, chineses e brasileiros visam ao mesmo objetivo: alcançar, pelo esforço próprio, e com o suplementar apoio da comunidade das nações, novos e mais aperfeiçoados patamares de modernização econômica e desenvolvimento social”.

A segunda etapa, de 1985 a 1993, foi a de consolidação das relações. Nesse período, ampliou-se as trocas comerciais, intensificou-se a interação entre o setor governamental e o encontro entre autoridades do alto escalão político passou a ser mais frequente. Destacam-se nesse período a visita do presidente José Sarney à China em 1988, ocasião em que foi assinado o Acordo de Cooperação para Pesquisa e Produção de Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres (CBERS). Em 1993, as relações foram elevadas para o nível de parceria estratégica.

A terceira etapa, de estabilização das relações, situa-se entre 1993 e 2003. Foi um período onde os encontros entre os altos dirigentes do Estado brasileiro e do Estado chinês se tornaram mais frequentes.

A quarta etapa é caracterizada por uma “rápida expansão dos laços bilaterais” vai de 2003 a 2012. Nessa fase foram criados importantes mecanismos institucionais para a fomentação do diálogo estratégico, como por exemplo, em 2004, a criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação e, em 2012, a criação do Diálogo Estratégico Global. Também foi nessa etapa, em 2009, que a China passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil.

A quinta etapa tem seu início em 2012, depois da elevação das relações para o nível de parceria estratégica global, e está em pleno curso. Política e economicamente, uma das principais características dessa fase é a sua projeção para além das relações bilaterais.

Como se pode observar, nesse meio século de estabelecimento das relações formais entre o Brasil e a China muitos foram os avanços e os benefícios, tanto no campo político quanto no econômico.

Se nos anos 70 o ordenamento internacional bipolar era um fator geopolítico asfixiante para países como o Brasil e a China, na atualidade, a superação da assimetria de poder continua na ordem do dia. China e Brasil são dois importantes protagonistas na aceleração desse processo de multipolarização mundial e quanto melhor essa relação fluir, maiores serão as conquistas nessa direção.

Apesar de estarmos diante de um ambiente internacional cada vez mais desafiador, é importante percebermos que também vivemos um momento propício para que essas relações se fortaleçam ainda mais. No Brasil, além do presidente Lula, políticos de distintas matizes ideológicas e representações sociais, diferentes segmentos empresariais e amplos setores da sociedade brasileira estão cada vez mais consciente sobre a importância desse relacionamento. E na China, a visão de mundo do presidente Xi Jinping condensada no seu sistema de Pensamento sobre a Diplomacia, amplia ainda mais as perspectivas dessas relações.

*O autor é professor e diretor do Centro de Estudos de Brasil da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang

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