Os campos da inteligência artificial (IA) e de big data, de grande desenvolvimento nos últimos anos, criam um grande potencial de cooperação entre China e Brasil, em uma área fundamental, visto que a IA deve ser o principal motor da economia do futuro.
Em um webinar promovido pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), a embaixada da China no Brasil, o Ministério do Comércio da China e a Escola Internacional de Negócios de Zhejiang (ZIBS), realizado nesta quarta-feira, especialistas de ambos os países trocaram ideias sobre o tema.
Abriram o evento o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, o presidente do CEBC; Jin Hongjun, o encarregado de Negócios da Embaixada da China; e Zhu Lian, vice-diretor do Departamento de Comércio Eletrônico do Ministério do Comércio da China.
O embaixador Castro Neves disse que o Brasil ocupa o nono lugar a nível mundial no número de unicórnios, ou seja, empresas tecnológicas com um valor superior a um bilhão de dólares, enquanto a China ocupa a segunda posição.
"Brasil, que tem quase 80% de sua população conectada a internet, pode encontrar na experiência chinesa uma grande fonte de inspiração", acrescentou.
Por sua vez, Jin Hongjun destacou que a economia digital é uma das prioridades do governo chinês em matéria de cooperação internacional e propôs que o Brasil e a China unam esforços para formar recursos humanos em áreas como pesquisa e desenvolvimento tecnológicos, transformação digital para pequenas e médias empresas e governança digital.
"Também reforçaremos o alinhamento das estratégias de desenvolvimento da economia digital, nos concentrando no intercâmbio de experiências e de políticas públicas", afirmou.
Zhu Lian disse que o desenvolvimento da economia digital e de tecnologias disruptivas como a IA e o blockchain faz parte da estratégia de crescimento do país.
Segundo ele, a economia digital da China alcançou US$ 5,8 trilhões em 2020. A maior contribuição veio do comércio eletrônico, uma área em que a China é um dos líderes mundiais.
Um número crescente de produtos brasileiros tem chegado aos consumidores chineses através do comércio eletrônico, com um aumento de 133% no primeiro trimestre.
Estiveram também presentes no webinar, como conferencistas, do lado da China, Wu Fei, diretor do Instituto de Inteligência Artificial da Universidade de Zheijang; Mei Tao, vice-presidente da JD.com; Zhang Lin, vice-presidente do Instituto de Pesquisa da Meituan.
Do lado brasileiro, participaram Ricardo Geromel, sócio da empresa 3G Radar; Sandor Caetano, chefe de Ciência de Dados da empresa de delivery iFood; e Martha Gabriel, professora de Inteligência Artificial da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).
Wu Fei disse que as universidades chinesas já contam com 400 carreiras em inteligência artificial.
O desenvolvimento da IA é uma prioridade do governo de Beijing, que lançou um plano nesse sentido em 2017, com objetivos específicos para 2020, 2025 e 2030.
Executivos da brasileira iFood e das gigantes chinesas Meituan e JD.com deram exemplos de como o uso da IA permite realizar negócios que implicam em milhões de transações por dia.
A IA está presente em todas as áreas de operações da iFood, destacou Sandor Caetano, chefe de Ciência de Dados da plataforma, maior FoodTech da América Latina, com 60 milhões de pedidos por mês.
JD.com, uma das maiores plataformas de comércio eletrônico da China, utiliza "humanos digitais" para apresentar os produtos nas 24 horas do dia.
Na Meituan, a IA permitiu que o veículo de entregas autônomo, apelidado de "Magic Bag 20" realizasse 2,2 milhões de entregas em 2020 em lugares abertos, disse Zhang Lin, vice-presidente do Instituto de Pesquisa da plataforma.
Segundo Ricardo Geromel, da 3G Radar, o Brasil não oferece uma formação universitária específica sobre o tema e tem muito a aprender com a China no desenvolvimento desse setor.
Para Martha Gabriel, autora do livro "Inteligência Artificial: do Zero ao Metaverso", a interação entre os humanos e as máquinas será cada vez mais intensa, até que ambos se mesclem, com potencialidades recíprocas cada vez maiores.
"Com o desenvolvimento da IA, no futuro alcançaremos a sociedade 5.0, utilizando as tecnologias da quarta revolução industrial", ressaltou.
No encerramento do evento, o presidente do CEBC, o embaixador Castro Neves, afirmou que somos testemunhas de uma revolução provocada pela tecnologia, e que, saber o que o futuro nos reserva é um grande desafio.
"Todos, e a China em particular, estamos na fronteira da inovação no âmbito da inteligência artificial e do big data, uma área tão sensível na fronteira do conhecimento. Estamos trabalhando em um exercício de teste e erro, em um campo totalmente novo", afirmou.