O conselheiro de Estado chinês e ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse na terça-feira que suas reuniões recém-concluídas com altos funcionários do governo interino afegão do Talibã são "benéficas", pois aumentaram o entendimento mútuo.
Informando os repórteres sobre suas reuniões separadas com o vice-primeiro-ministro em exercício, Mullah Abdul Ghani Baradar e o ministro das Relações Exteriores, Amir Khan Muttaqi, do governo interino afegão do Talibã na capital do Catar, Doha, Wang disse que ouviu declarações mais positivas das autoridades sobre política interna e externa.
O lado Talibã apresentou detalhadamente as políticas do governo interino afegão para aumentar a inclusão do regime talibã, protegendo os direitos e interesses legítimos de mulheres e crianças e combatendo o terrorismo, temas que preocupam a China e a comunidade internacional, revelou Wang.
"Também comunicamos sobre intercâmbios bilaterais e decidimos estabelecer um mecanismo de trabalho. Deve-se dizer que esses contatos são benéficos e aumentam o entendimento mútuo", disse.
Wang observou que, como a situação no Afeganistão está atravessando um ponto de inflexão, a China apresentou quatro expectativas para o futuro do país, visando um "consenso da comunidade internacional".
As expectativas chinesas incluem: construir uma estrutura política mais aberta e inclusiva, na qual todos os grupos étnicos e fações participem e desempenhem um papel; implementar políticas internas e externas moderadas e estáveis, incluindo a proteção dos direitos e interesses legítimos das mulheres e crianças; romper claramente com todas as forças terroristas e tomar medidas para combatê-las resolutamente; adotar uma política externa pacífica de coexistência harmoniosa com outros países, especialmente os vizinhos.
"A chave é como alcançá-lo", disse Wang, acrescentando que a China afirma que a comunidade internacional deverá manter uma atitude de igual respeito, comunicar com todas as partes e grupos étnicos no Afeganistão e fornecer uma "orientação ativa" para que tais metas sejam alcançadas.
"Não aprovamos a pressão cega e somos mais ainda contra ameaças e sanções", disse Wang.
A história do Afeganistão e muitos eventos internacionais provam que apontar o dedo a uma nação independente muitas vezes acaba sendo contraproducente, prosseguiu Wang, acrescentando que a interferência nos assuntos internos de um país viola as normas básicas das relações internacionais.
"Contanto que sejamos pacientes, procedamos de maneira ordeira e interajamos ativamente com o governo interino afegão e outros partidos e grupos étnicos, acredito que o Talibã será capaz de entender claramente que suas ações devem estar mais de acordo com os interesses fundamentais e de longo prazo do povo afegão, bem como as expectativas de todas as partes, para uma integração mais harmoniosa na comunidade internacional", disse Wang.
Sobre a política da China em relação ao Afeganistão, Wang disse que a China respeita a soberania, independência e integridade territorial do Afeganistão, respeita a escolha ativa do seu povo de um caminho de desenvolvimento que se adapte às suas próprias condições nacionais e respeita a realidade objetiva do governo interino afegão em todo o país.
A China nunca interferiu nos assuntos internos do Afeganistão, nem buscou qualquer proveito egoísta ou uma esfera de influência no Afeganistão, afirmou.
Sobre as dificuldades que o Afeganistão enfrenta, Wang disse que os Estados Unidos, que encerraram sua invasão de 20 anos ao Afeganistão em 30 de agosto deste ano com uma retirada total das tropas, juntamente com alguns países ocidentais, "carregam a responsabilidade inexorável".
"A China exorta esses países a assumirem suas devidas responsabilidades e a tomarem medidas práticas o mais rápido possível para ajudar efetivamente a aliviar uma possível crise humanitária e a fazer boas ações pelo povo afegão", disse.
Wang apelou ainda à comunidade internacional para fazer esforços concertados no sentido de assegurar a verdadeira implementação do princípio de "Afeganistão liderado por afegãos".
