O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro anunciou nesta segunda-feira a troca de seis figuras do primeiro escalão de seu governo, causando surpresa em todos os setores, ao ponto de ter deixado as notícias da pandemia da COVID-19 em segundo plano, mesmo com a contínua subida acelerada de casos e mortes no país.
O dia começou com a espera da comunicação oficial da saída do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que colocou o cargo à disposição do presidente, após travar polêmicas com parlamentares de vários partidos, que o acusaram de praticar uma política externa contrária aos interesses do país, prejudicando inclusive as negociações para a compra de vacinas contra a COVID-19.
Araújo, que jamais chegou a embaixador, assumiu a chancelaria no início do governo Bolsonaro e teve uma atuação marcada pelo estreitamento das relações com os Estados Unidos sob o governo Trump, pelas críticas ao "globalismo" e enfrentamentos com os principais parceiros comerciais do Brasil, além de adotar uma política externa contraria aos interesses do país.
Na semana passada, em um episódio inédito nos anais do Itamaraty, uma carta firmada por mais de 300 diplomatas, entre eles 10 embaixadores que não se identificaram por motivos legais, pediu a saída do chanceler alegando condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e códigos elementares da carreira que provocaram "graves prejuízos para as relações internacionais e à imagem do Brasil".
Enquanto os principais analistas políticos especulavam sobre quem seria seu sucessor, veio o anúncio da saída do Ministro da Defesa, general da reserva Fernando Azevedo e Silva.
"Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como ministro de Estado da Defensa", disse em nota Azevedo e Silva.
"Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições do Estado", destacou o agora ex-ministro que, segundo todos os meios locais, apresentou seu pedido de demissão, após uma reunião na qual Bolsonaro teria demonstrado insatisfação com a atuação do amigo de muitos anos.
Pouco depois da surpresa do dia e enquanto prosseguiam as especulações dos analistas sobre quem entraria no lugar de Azevedo e Silva, a imprensa foi informada que José Levi, chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), tinha pedido demissão do cargo.
O presidente Bolsonaro só divulgou os substitutos e as trocas do primeiro escalão no início da noite.
O Ministério da Defesa passa agora ao comando de outro general da reserva, Walter Souza Braga Netto, atual ministro chefe da Casa Civil, cargo em que será substituído pelo também general da reserva, Luiz Eduardo Ramos, até então ministro da Secretaria de Governo.
Ramos será substituído no cargo de responsável pela articulação política do governo pela outra surpresa: a escolha da deputada federal Flavia Arruda, do Partido Liberal (PL), que está em seu primeiro mandato e é do mesmo bloco político do atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
Flavia Arruda, que ocupava a presidência da Comissão Mista de Orçamento, é esposa de José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal condenado por participação em um esquema de corrupção conhecido como "Mensalão do DEM".
A "reforma ministerial" desta segunda-feira inclui também o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, que terá como novo comandante o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Torres entra no lugar de André Mendonça, que volta à chefia da Advocacia-Geral da União, da qual tinha sido guindado ao posto de ministro da Justiça com a saída ano passado do ex-juiz Sérgio Moro.
A última designação anunciada foi a do novo ministro das Relações Exteriores. O substituto de Ernesto Araújo é Carlos Alberto Franco França, diplomata de carreira que foi promovido a embaixador (ministro de primeira classe, na hierarquia do Itamaraty) há pouco mais de um ano.
Considerado um diplomata discreto, França nunca chefiou uma missão diplomática no exterior. Durante a carreira, ele serviu nas embaixadas em Washington (Estados Unidos), Assunção (Paraguai) e La Paz (Bolívia) por duas vezes.
Sua escolha foi outra surpresa, já que seu nome não fazia parte das especulações. Responsável pelo cerimonial da Presidência da República desde 2019, atualmente era chefe da Assessoria Especial de Bolsonaro.
As mudanças no primeiro escalão do governo ocorrem uma semana depois da saída do general Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde, substituído pelo médico cardiologista Marcelo Queiroga.