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Brasileiro conta sua experiência na China antes e depois do bloqueio de Wuhan

Fonte: Diário do Povo Online    19.03.2021 16h14

Por Beatriz Cunha, Renato Lu e Fátima Fu

A China foi o primeiro país a identificar e alertar o mundo sobre a Covid-19, quando se tratava ainda de uma doença desconhecida. Wuhan, que foi o primeiro epicentro da doença causada pelo novo coronavírus, estreou na batalha contra a doença.

Após métodos acertivos de higiene sanitária, a cidade praticamente voltou ao normal.

Recentemente, o programa de notícias da Globo, Fantástico, mostrou a cidade através de uma visita virtual, que contou com a recepção do empresário brasileiro José Renato Peneluppi Jr.

Em entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online, Renato nos conta em mais detalhes sobre sua experiência com a China, em especial com a cidade de Wuhan.

Renato veio para a China em 2010 para realizar seu mestrado em Administração Pública na Universidade de Ciência e Tecnologia de Huanzhong, em Wuhan (HUST, na sigla em inglês). Ele participou do projeto China- Instituto UE para Energia Limpa e Renovável (ICARE, na sigla em inglês), voltado para a transferência de tecnologia de energia do governo europeu para a China.

Após concluir o mestrado em 2013, já no Brasil, auxiliou a conexão entre a Universidade Federal de Minas Gerais do Brasil (UFMG) e a HUST, a parceria entre as duas universidades resultou no estabelecimento do Instituto Confúcio na UFMG.

Questionado sobre sua imprensão sobre a cidade, Renato destaca que a mesma possui “um logo fantástico: Wuhan todo dia diferente”. Ele diz que a cidade sempre fez juz ao logo: “sempre uma estação de metrô nova, sempre uma rua nova, um prédio novo. É uma cidade que cresce de forma muito vertiginosa, muito rápida, e o padrão de vida, a riqueza e a fartura aqui são sempre muito grandes”.

Para ele, com os Jogos Olímpicos Militares, Wuhan se abriu para o mundo, que passou a conhecer a cidade em outubro de 2019. Foi em dezembro do mesmo ano que surgiu o surto do novo coronavírus, que na época as pessoas pensaram se tratar da síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês), que havia impactado o país em 2003.

Renato estava de férias no Oriente Médio entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, ele lembra que ao retornar para Wuhan, mesmo no início da descoberta da doença, as informações sobre os riscos e os cuidados já eram amplamente divulgadas.

Zhong Nanshan, médico de referência no país, acompanhou as primeiras investigações de perto, relembra ele. Na ocasião, “havia uma condição muito drástica na saúde da cidade”. No dia 20 de janeiro de 2020 o governo emitiu aviso de que a doença é transmissível entre pessoas, então ele foi para Bielo-Rússia.

“Me impressionou muito como em Wuhan, a população se uniu, se mobilizou e colaborou com o processo, que teve uma participação de todos na educação comum”, disse ele, acrescentando que além de haver uma educação civil, todos foram muito bem informados. Ao todo o governo emitiu à população doze cartas no momento e nos dias que se seguiram ao bloqueio da cidade.

Após 10 meses longe, Renato retorna para a China em outubro de 2020, realiza sua quarentena em Tianjin e, em 1º de novembro retorna à cidade de Wuhan.

Em menos de um ano a sua percepção foi de que a cidade ficou muito mais moderna, a vida ficou mais dinâmica, o uso das tecnologias ficou mais intenso e as pessoas ficaram mais educadas, receptivas e carinhosas.

Em toda a China as pessoas não saem de casa sem máscaras, e em Wuhan não é diferente. “Hoje não há mais lei exigindo o uso de máscara, mesmo assim as pessoas seguem utilizando, além do QR code em todas as partes”, relatou ele.

Renato avalia que o trabalho de prevenção de epidemias na China segue “uma ética e uma segurança sanitária” muito grande. As pessoas tem contato mínimo umas com as outras, não é mais necessário tocar no dinheiro em espécie, já que basicamente tudo está digital.

“Mesmo já não tendo mais o vírus, praticamente, aqui (Wuhan) e no país como um todo, as pessoas seguem muito atentas, muito conectadas com essa questão da segurança sanitária”, destacou ele.

O empresário acredita que o Brasil e a China realizam uma troca interessante. Ele destaca que o lema da bandeira brasileira, “Ordem e Progresso” vem sendo utilizado na prática pela China, que está demonstrando que “ esses princípios são muito válidos, eles tem realmente base positiva para avançar como civilização”, diz ele.

 Questionado sobre a razão para a China conseguir controlar bem a epidemia o empresário apontou quatro fatores: a priorização da vida, a tomada de decisão com base na ciência, a educação e mobilização social, e o uso abrangente das tecnologias.

“Como o presidente Xi Jinping bem declarou: É uma guerra popular, está todo mundo mobilizado, está todo mundo devotado à essa luta, mas se os demais países não vencerem, a China tem que ficar na resistência lutando”, afirmou ele, parafraseando o presidente chinês. 

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