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Mudanças marcam a vida de migrante cuja foto sensibilizou milhões

Fonte: Diário do Povo Online    03.02.2021 10h50

Durante o período de viagens do Festival da Primavera em 2010, uma foto tirada em uma estação ferroviária na cidade oriental de Nanchang de uma jovem trabalhadora migrante regressando a casa com seu bebê ao colo enquanto carregava uma enorme bolsa cheia de itens nas costas sensibilizou milhões de pessoas.

A foto ocupou as manchetes de vários meios de comunicação como um símbolo do amor de uma mãe.

Onze anos depois, o fotógrafo que tirou a foto encontrou a mãe, agora uma mulher de 32 anos residente na vila de Taoyuan, no condado de Yuexi, na prefeitura autônoma de Liangshan Yi de Sichuan, sudoeste da China. O encontro serviu também para documentar as tremendas mudanças ocorridas na pequena aldeia.

Tendo se mudado para sua nova casa de concreto há não muito tempo, Bamu ainda é ocasionalmente assombrada por um pesadelo, no qual seus filhos são acordados pelo frio e em que a casa desaba.

Durante a maior parte de sua vida, Bamu morou em casas de adobe. Viver em uma casa à prova de água e à prova de vento era seu sonho.

Antigamente, não havia eletricidade em sua casa. Quando chovia, recorda, a cama e a colcha ficavam molhadas e ela e o marido tinham de colocar baldes e bacias para reter a água da chuva.

A terra arável era tão escassa e infértil na aldeia que os residentes tinham dificuldade em sobreviver da agricultura.

"Em um ano ruim, as colheitas de todo o ano seriam arruinadas", disse Liu Jian, o primeiro secretário do Partido na aldeia.

A família de Bamu tem 0,4 hectare de terra seca, onde costumava plantar milho, batata e trigo. As colheitas mal davam para alimentar a família. O arroz era um luxo que não tinham dinheiro para comprar.

Quando a segunda filha nasceu em 2009, Bamu foi tomada pelo medo de que a sua filha nunca fosse capaz de deixar a montanha, tal como ela.

Ela tomou então uma decisão ousada: ir trabalhar para fora.

A foto que fez sucesso na mídia em 2010 capturou o momento em que ela havia acabado de terminar uma temporada de cinco meses de trabalho em Nanchang, província de Jiangxi, no leste da China, e estava regressando a casa para a reunião familiar do Festival da Primavera.

Ela se lembra claramente da viagem de Nanchang rumo à sua casa na montanha Daliang. Carregando malas, grandes e pequenas, e sua filha, ela primeiro pegou um trem de Nanchang para Chengdu, capital da província de Sichuan, durante dois dias e uma noite, onde passou outras 14 horas em um trem até ao condado de Yuexi.

Quando finalmente chegou a casa, já era meia-noite. A viagem toda durou três dias e duas noites.

O tempo de viagem entre Nanchang e Chengdu foi entretanto reduzido para oito horas, graças à abertura de uma ferrovia de alta velocidade. A viagem de Chengdu a Yuexi foi reduzida para 6 horas.

O primeiro trabalho de Bamu em Nanchang foi transportar tijolos em uma fábrica, onde ganhava cerca de 500 yuans por mês. "Não era muito, mas era melhor do que cultivar a terra em casa", admite.

Como membro do grupo étnico Yi, ela não fala mandarim, a língua nacional padrão. Até as passagens de trem foram compradas com a ajuda de outros moradores.

Bamu passou a infância em uma montanha alta. Embora houvesse uma escola no sopé da montanha, eram precisas duas horas para descer. Então, como muitas outras garotas locais, Bamu nunca foi à escola.

Enquanto trabalhava na fábrica, ela praticou mandarim e tentou se integrar em uma sociedade desconhecida.

Durante os dias de trabalho em Nanchang, a maior dor de cabeça de Bamu foi a doença da segunda filha. De volta a casa, ela levaria a menina a um hospital na cidade próxima. Mas na nova cidade, não sabia o que fazer. Devido à situação, foi forçada a voltar para casa para procurar tratamento para a menina.

A famosa foto tirada na estação ferroviária de Nanchang em 2010 registrou o momento em que Bamu voltou para casa com a sua segunda filha.

Infelizmente, a menina morreu de doença em menos de seis meses. Desde então, Bamu nunca mais deixou sua cidade natal para trabalhar.

Seu terceiro bebê também morreu poucos dias após o nascimento, em 2011.

"Naquela época, havia apenas uma estrada de terra que levava ao exterior. As pessoas viajavam de carruagem. As más condições de saúde causaram a morte de muitos recém-nascidos que nasciam em casa", disse Bamu.

A sorte de sua família começou a mudar depois que um projeto de erradicação da pobreza foi apresentado ao vilarejo.

Seguindo os passos de muitos outros moradores da vila, o casal começou a cultivar safras comerciais, como folha de tabaco e árvores de fruto, em seus campos.

Após o primeiro ano de plantio experimental, nem conseguiram atingir a marca dos 6.000 yuans, devido à falta de conhecimento e experiência. No entanto, todos tinham a esperança de uma vida próspera. No ano seguinte, sua família foi registrada como uma família pobre pelo governo local e receberam ajuda, como treinamento e mudas de tabaco para cultivo de um membro do governo que se juntou à família para os ajudar a deixar a pobreza.

Depois de aprender novas habilidades agrícolas, a produção de folhas de tabaco de Bamu se multiplicou, assim como sua renda.

No ano passado, a renda da família atingiu os 100.000 yuans e conseguiram deixar a pobreza.

Em 2018, a família mandou construir uma nova casa de cimento, graças a um subsídio de 40.000 yuans do governo e 70.000 yuans do próprio bolso. A nova casa é bem iluminada e limpa, decorada com ladrilhos e equipada com eletrodomésticos, como como geladeira e máquina de lavar.

Além disso, a família conta com apoio financeiro na área de saúde e educação e, desde 2013, ela deu à luz mais três filhos, todos em hospitais do município gratuitamente.

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