A queda do avião comercial ucraniano, que poderia ser evitada, foi uma tragédia originada pelas tensões no Oriente Médio, de acordo com um especialista, no seguimento do Irã ter reconhecido que havia “acidentalmente” abatido com um disparo de mísseis o avião.
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, disse no sábado que uma investigação militar sobre a tragédia havia concluído que “os mísseis foram disparados devido a erro humano”, qualificando o ocorrido como “um erro indesculpável”.
A confirmação surgiu dias após a queda de quarta-feira, que vitimou todos os 176 passageiros a bordo. Teerã negou inicialmente a possibilidade de erro humano, avançando que se trataria de um problema técnico.
O ímpeto iraniano para atribuir a culpa a um erro humano, tendo em conta o contexto geral, é compreensível, disse Li Shaoxian, um especialista em estudos do Oriente Médio da Universidade de Ningxia.
Os mísseis atingiram o avião poucas horas depois de um míssil iraniano ter atingido duas instalações militares norte-americanas no Iraque.
“Parece razoável que o exército iraniano tenha cometido um erro devido às tensões elevadas. Os iranianos não faziam ideia de como os EUA iriam reagir ao ataque militar”, disse. Os comandantes na linha da frente tinham autoridade para lançar mísseis contra quaisquer alvos suspeitos.
O comando das Forças Armadas Iranianas disse no sábado que o voo ucraniano “se assemelhava a um alvo hostil se aproximando de um centro sensível” do Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos, especialmente “sob condições sensíveis e críticas” quando os voos americanos haviam aumentado nas proximidades da fronteira iraniana.
Li descreveu a tragédia como o produto não previsto das tensões elevadas na região do Golfo Pérsico e do estado de alerta iraniano para possíveis ataques. Uma mentalidade de guerra, disse, estava patente no assassinato do general Qasem Soleimani, a 3 de janeiro no Iraque.
“Sem o assassinato, não haveria tensões na região”, afirma Li. “Os EUA têm responsabilidade nesta situação e no desfecho trágico”.
“É algo que não deveria ter ocorrido. É por isso que todas as partes, incluindo a China, têm vindo a urgir os EUA e o Irã a manter a contensão”, disse.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson disse no sábado que o trágico acidente “apenas reforça a importância de reduzir as tensões na região”.
“É vital que todos os líderes sigam a via diplomática... Podemos constatar claramente que o conflito apenas leva a mais perdas e tragédias”, frisou.
Em seu comunicado, Rouhani pediu desculpas pela catástrofe e apresentou as condolências às famílias das vítimas. Ele prometeu também aprofundar as investigações “para identificar todas as causas e motivos” e responsabilizar qualquer pessoa que tenha agido inapropriadamente.
Após uma conversa com Rouhani, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse no Twitter compreender o motivo do ataque.
“Insisto na identificação imediata dos corpos e no seu retorno à Ucrânica”, disse Zelensky. “Os culpados têm de ser responsabilizados”.
Rouhani disse entretanto que investigações conjuntas entre especialistas iranianos e ucranianos irão continuar, e medidas judiciais serão aplicadas “em breve”.
Em conversa telefônica com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, cujo país tinha 57 cidadãos a bordo, Rouhani disse que estava disponível para cooperar dentro do enquadramento dos regulamentos internacionais para aferir as dimensões do incidente.
Enquanto isso, na sexta-feira, os EUA impuseram novas sanções sobre o Irã, apesar de apelos internacionais de contenção. As sanções incluem o setor metalúrgico, entre outros, da economia iraniana.
