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Ensino de português em Macau atravessa período de grande dinamismo, entrevista com Lurdes Escaleira

Fonte: Diário do Povo Online    25.11.2019 14h15

A residir em Macau há 32 anos, Lurdes Escaleira, professora no Instituto Politécnico de Macau concedeu uma entrevista ao Diário do Povo Online onde aborda o seu percurso por Macau e algumas das vivências mais marcantes naquela Região Administrativa Especial.

A mudança para o território surgiu “de forma inesperada”, confessa, aludindo ao tempo em que estava prestes a concluir os estudos em filosofia e surgiu a oportunidade de dar aulas fora de Portugal. Primeiro para a Guiné, para onde esteve quase para ir e, depois, para Macau, para onde concorreu e teve sucesso “logo à primeira tentativa, em 1987”.

A escolha por permanecer em Macau ao longo de três décadas deve-se ao facto de ter “uma vida calma, apesar de muito intensa”, confessa, e às oportunidades que o território foi proporcionando ao longo da sua estadia: “Em Macau consegui estudar, trabalhar, mudar de uma área para a outra (...) Tive sempre a possibilidade de fazer muitas das coisas que gostaria de fazer na minha vida”.

Uma vida que qualifica como “preenchida”, com passagens pelo IPM, onde se encontra, escola de comércio, centro de formação dos Serviços de Administração e Função Pública, entre outros, coaduna-se com a convivência multicultural, e com a exploração do continente asiático, fatores que considera “muito importantes”.

Lurdes Escaleira participou ativamente na cerimónia da transferência de administração, fazendo parte do grupo de gestão da imprensa que cobriu o evento, ao serviço do Gabinete para a Cerimónia de Transferência.

Da ocasião recorda a intensidade do trabalho: “Só voltávamos para tomar banho e mudar de roupa, porque serviam-nos o pequeno-almoço, almoço, jantar e ceia no gabinete. O trabalho era tanto que não podíamos sair”.

Desse período, ressalta um episódio caricato em que tinham sido atribuídos dois uniformes, um da administração portuguesa e outro do governo da RAEM, que deveria ser usado após a meia-noite de 20 de dezembro de 1999.

No que concerne à difusão da língua portuguesa no território, a docente refere que a evolução tem sido cada vez mais acentuada ao longo dos anos. “Hoje temos uma situação muito melhor do que alguma vez vi no território de Macau nos últimos 30 anos”, admite.

Contudo, não deixa de alertar que é necessário um “papel mais proativo” por parte do Governo de Macau, explicando que “hoje os países de língua portuguesa convivem de forma direta com a China”.

“Se Macau não se afirmar como essa ponte, pode perder esse lugar privilegiado, porque os países de língua portuguesa começam a contactar diretamente com a China (parte continental)”, afirma, aludindo ao crescente número de falantes nativos de português que dominam já o mandarim.

Macau deve, na opinião da professora, “afirmar-se como um centro de ensino da língua portuguesa e como um ponto de aprendizagem para conviver com a China, para entrar na China”. O princípio aplica-se nos dois sentidos, tanto para alunos chineses que procurem conhecer a lusofonia como de alunos lusófonos que entram na aventura de explorar a China. Este é, alias, um processo no qual Lurdes Escaleira participa ativamente, lecionando turmas de alunos chineses e provenientes de diversos países de língua oficial portuguesa.

As expetativas e anseios para o futuro da RAEM passam pela continuidade do desenvolvimento económico, por um maior investimento no setor cultural e por uma porta sempre aberta ao intercâmbio cultural e linguístico: “Tal como em 1999 foi uma transição pacífica, calma, e que trouxe uma melhoria ao nível do ensino de português, espero que 2049 seja o mesmo – um apostar na convivência entre os dois mundos, nas suas línguas e culturas”. 

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