Beijing, 25 out (Xinhua) -- O diretor de negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Augusto Pestana, disse em entrevista exclusiva à Xinhua em Beijing que tanto o governo como o setor privado do Brasil atribuem importância ao mercado chinês, o maior da Ásia, a qual é um dos centros do dinamismo econômico mundial, e que as cooperações econômicas entre os dois países têm grande potencial de desenvolvimento.
Por ocasião da visita do presidente brasileiro Jair Bolsonaro à China, a Apex-Brasil organizou, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, a vinda de uma delegação de quase 100 empresários para aproveitar esta oportunidade e expandir a cooperação comercial e de investimento com a China.
Ao comentar sobre o rápido desenvolvimento na relação econômica e comercial entre a China e o Brasil, Pestana avaliou que são grandes países, grandes economias extremamente diversificadas com muita pujança nos setores industrial, agrícola e serviços, entre outros, e que têm complementaridade em certos setores, diante da forte chinesa demanda por alimentos e produtos básicos do Brasil e a crescente demanda brasileira por capital e investimentos privados. Na opinião dele, essa relação é mutuamente benéfica e é natural que os dois grandes países, apesar da distância, tenham um laço econômico e comercial em rápido desenvolvimento.
Segundo Pestana disse à Xinhua na quarta-feira, o Brasil realizará projetos de infraestrutura nos segmentos como rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e energia, para "colocar o Brasil num novo patamar das infraestruturas e das conexões, aumentando a competitividade da economia brasileira".
"O Brasil vai embarcar em um grande projeto de aprimoramento de sua infraestrutura, com um programa extremamente vigoroso de concessões de privatizações que deverão ajudar o Brasil a superar muitos de seus gargalos logísticos", o que demandará investimentos muito expressivos, afirmou Pestana. Esses investimentos, acrescentou ele, virão não apenas do próprio país, como também do estrangeiro, incluindo a China, uma fonte muito relevante. O país quer procurar fundos de investimento e empresas chinesas interessantes nessa área, destacou.
Ao enfatizar os exemplos bem-sucedidos de investimento da State Grid e da China Three Gorges Corporation na infraestrutura do Brasil, o diretor de negócios disse que a China e o Brasil ainda têm um grande potencial para explorar nesse aspecto.
Pestana disse que o Brasil fez grandes esforços para melhorar o ambiente propício aos negócios para os empresários nacionais e estrangeiros, eliminando a burocracia que afeta a competitividade da economia brasileira e reduzindo os gargalos de logística com concessões e privatizações. Segundo ele, o Brasil já é um dos beneficiários do investimento estrangeiro direto, e essa perspectiva pode se ampliar ainda mais com maiores oportunidades para os parceiros, inclusive os chineses.
Em termos do comércio com a China, Pestana acredita que há um grande potencial a explorar até mesmo do fato de ser o maior parceiro comercial do Brasil. Ele lamentou que, por um lado, "há poucos produtos industrializados e alimentos processados brasileiros na China" e que, por outro, poucos produtos ocupam grande parcela dessa troca comercial com o país asiático, e que seu país é muito dependente de commodities na exportação, como a soja.
Para ele, o Brasil tem que diversificar o perfil do comércio ao acrescentar produtos à pauta exportadora, pois o país sul-americano tem uma economia diversificada, com uma gama bastante ampla de produtos de alta competitividade, como aviões, máquinas e equipamentos, que oferecem potencial para exportar para o mercado chinês.
Segundo Pestana, a fim de sair da situação, o foco deve ir para o agronegócio, um dos setores mais relevantes e extremamente representativos entre aqueles em que o Brasil tem mais competitividade. Ele citou como capazes de ampliar a presença brasileira no mercado chinês produtos de qualidade e de alto valor agregado do agronegócio --entre eles, vinho (especialmente o espumante), cachaça, frutas, queijo, café especial e carne-- e serviços. "A ideia é diversificar a base", acrescentou.
Vinte empresas brasileiras estão se preparando para participar da 2ª Exposição Internacional de Importação da China, disse Pestana. De 5 a 10 de novembro, em Shanghai, elas apresentarão aos consumidores chineses os produtos brasileiros competitivos, com foco nos de agronegócios de alto valor agregado. O Brasil vai aproveitar a feira como o início da grande estratégia para mudar o perfil do comércio com a China com uma diversificação e agregação de valor, acrescentou.
Além das infraestruturas e comércio, Pestana disse que a Apex-Brasil tem dado grande importância à inovação e às startups, que representam o futuro da economia e nichos das tecnologias, envolvendo tecnologias da informação e comunicações, e que a China serve de uma referência para o Brasil com grandes exemplos de startups.
"Nós queremos incentivar um casamento entre as empresas nascentes no Brasil e na China", afirmou.
Este ano marca o 45º aniversário das relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Há dez anos seguidos a China se mantém como o maior parceiro comercial e o maior destino de exportação do país sul-americano. De acordo com as cifras oficiais brasileiras, o comércio bilateral em 2018 ultrapassou o patamar de US$ 100 bilhões, e de 2003 a março de 2019, a China investiu US$ 71,3 bilhões no Brasil.