Este ano marca o 45º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Nos dias 24 e 25 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro irá fazer sua primeira visita oficial à China. Com a aproximação desta data, Chen Duqing, ex-embaixador chinês no Brasil, concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo, abordando a evolução das relações sino-brasileiras.
Chen descreve metaforicamente a relação entre os dois países como o “amor após o casamento”. “Costumo dizer que houve primeiro um casamento, e depois veio o amor. Casamento, assinatura… tudo foi um processo de entendimento mútuo. Foi um processo de quase 10 anos. Embora tenha sido estável, não foi de todo rápido. Foi um processo que levou tempo”.
As relações sino-brasileiras começaram a se desenvolver mais rapidamente na década de 1990 e, após darem entrada no novo século, avançaram como nunca antes - a China superou, entretanto, os EUA como maior parceiro comercial do Brasil.
Em 2018, o volume de comércio entre a China e o Brasil atingiu os 111,1 bilhões de dólares americanos, excedendo a barreira dos 100 bilhões. Em 1974, o volume total do comércio entre os dois países era de apenas 17,4 milhões de dólares. Nos dias que correm, 1 dia equivale a 300 milhões de dólares. Um dia do ano passado equivalia ao volume total de comércio de há dezenas dos anos. Estes números são inimagináveis. A proximidade da relação implica que ambos reconhecem a importância do interlocutor.
No que concerne ao desenvolvimento sólido das relações bilaterais, Chen Duqing acredita que os cinco princípios de coexistência pacífica promovidos pela China desempenham um papel importante. “Nunca interferimos nos assuntos internos um do outro e respeitamos o sistema escolhido pela outra parte no seu caminho rumo ao desenvolvimento”.
Chen lembra que várias gerações de líderes chineses visitaram o Brasil, pelo que existe um conhecimento profundo do país, deixando bases para o futuro desenvolvimento das relações.
“Acredito que o fato do relacionamento ter se desenvolvido até este ponto é fruto dos esforços conjuntos de ambas as partes”, afiança.
A primeira visita do presidente Jair Bolsonaro à China terá, nas expectativas de Chen Duqing, um impacto positivo para os dois países. “Acho que o mais importante desta visita é o aprofundamento do entendimento e da confiança mútua, além, claro, da cooperação econômica e comercial. Além disso, poderá ser possível também promover a cooperação nos setores de alta tecnologia, inovação tecnológica, comércio eletrônico, entre outros setores afins no futuro”.
A visita do presidente irá também servir para aproximar mais os dois países em outros setores. Atualmente, governadores de vários estados brasileiros planejam visitar a China. O governo federal enviou um sinal positivo de que tais visitas serão cada vez mais importantes. As visitas de outros escalões governamentais são pragmáticas na criação de projetos, atração de investimento e prospeção de diversas áreas de cooperação.
Em novembro deste ano, o 11º encontro dos líderes do BRICS terá lugar no Brasil. Relativamente à cooperação sino-brasileira em organismos internacionais e multilaterais, Chen Duqing acredita que, desde o estabelecimento do BRICS, por exemplo, a China tem sido exemplar no seu relacionamento com os demais membros.
Originalmente corriam rumores de que, se o Brasil mudasse de presidente, o projeto do BRICS cairía por terra. Tal não parece ser o caso. O embaixador refere ainda que este encontro servirá para melhor conhecer o Brasil e para o país desempenhar um papel mais contundente no organismo.
Além dos domínios econômico e comercial, a China e o Brasil têm vindo a cooperar na ciência e tecnologia, infraestrutura, entre outros - especialmente na tecnologia 5G. Em maio deste ano, o vice-presidente Hamilton Mourão enfatizou durante a sua visita à China em maio a importância do 5G. Em cooperação com a Huawei, Chen Duqing, acredita que o Brasil tem adotado uma atitude pragmática.
Há bem pouco tempo, o secretário do Comércio dos EUA colocou pressão sobre o país para colocar entraves à adesão ao 5G. Além de tal apelo ter sido descartado, foram desmascarados os motivos ulteriores da proposta americana.
“Acho que a cooperação sino-brasileira deve eliminar interferências estrangeiras no futuro. As afirmações de Mourão são muito positivas. É claro, o presidente está vindo, por isso acredito que não irá voltar atrás nesta questão. Porquê? Porque é do interesse nacional do Brasil. O Brasil tem de ser capaz de implementar o desenvolvimento econômico e tal é impensável sem o papel da indústria de comunicações”.
Chen Duqing revela estar otimista para o futuro das relações bilaterais. “De acordo com a minha experiência no Brasil ao longo dos anos, estou otimista para o futuro do país e das relações com a China. Sempre fui otimista”.