A economia global será gravemente afetada se a disputa comercial entre a China e os Estados Unidos evoluir para um ciclo de medidas e contramedidas generalizadas, segundo defenderam vários economistas na quarta-feira.
Tal resposta surgiu depois que o Departamento de Comércio dos EUA anunciou na terça-feira que estava iniciando novas investigações para determinar se certas peças de aço, provenientes da China, eram comercializadas nos EUA recorrendo ao dumping e se os fabricantes da China estavam recebendo subsídios.
Maurice Obstfeld, conselheiro econômico e diretor de pesquisa do Fundo Monetário Internacional, disse que as principais economias estão “ameaçando com uma guerra comercial” em um momento de expansão econômica generalizada.
“Nas economias avançadas em particular, o otimismo público sobre os benefícios da integração econômica foi sendo corroído ao longo do tempo por tendências de longo prazo de polarização de empregos e salários, juntamente com um crescimento abaixo da média dos salários de nível médio. Muitas famílias sentiram pouco ou nenhum benefício do crescimento”, disse Obstfeld.
O FMI prevê que as recentes políticas dos EUA venham a ampliar o seu déficit comercial. É esperado que o déficit em conta corrente dos EUA em 2019 aumente em cerca de 150 bilhões de dólares, considerando que o corte nos impostos e as mudanças nos gastos dos EUA se efetivaram nos últimos meses.
Wei Jianguo, ex-vice-ministro do Comércio, disse que os EUA estão tentando formar alianças com a União Europeia e o Japão para reprimir ainda mais a produção da China, impulsionada pela estratégia “Fabricado na China 2025”.
Contudo, reforçou Wei, essas duas outras economias devem estar cientes de que os EUA não querem que qualquer outro país tenha uma vantagem tecnológica na manufatura moderna, pois tal iria afetar o seu domínio global. "Eles serão os próximos alvos depois da China, se seguirem a postura equivocada dos EUA", afirmou.
A Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC, na sigla em inglês) votou por unanimidade na terça-feira a favor da proibição do uso de fornecedores considerados de risco para a segurança nacional por parte de operadoras de telecomunicações subsidiadas pelo governo federal. Esta ação tem como alvo os líderes tecnológicos chineses Huawei Technologies Co e ZTE Corp, dois nomes que apareceram no pedido da FCC.
Embora a proibição necessite de uma segunda votação para entrar em vigor, ela destaca uma vez mais as dificuldades cada vez maiores que os intervenientes chineses têm para acessar ao mercado estadunidense, disse Bai Ming, pesquisador do Ministério do Comércio.
"Depois do protecionismo no comércio, o governo dos EUA está usando as preocupações com a segurança nacional como uma ferramenta para excluir os intervenientes chineses e proteger a sua indústria de tecnologia doméstica", explicou Bai.
O governo dos EUA sente-se ameaçado quando as empresas de tecnologia chinesas emergem como pioneiras da inovação, concluiu.