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EUA "dão tiro no pé" com medidas protecionistas

Fonte: Xinhua    05.04.2018 14h48

Por Edgardo Loguercio

Brasília, 5 abr (Xinhua) -- As tarifas recentemente impostas sobre metais importados e outras medidas protecionistas tomadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, podem sair pela culatra, disse o economista brasileiro César Bergo, do Conselho Federal de Economia (COFECON).

Longe de reforçar a indústria nacional, "os Estados Unidos estão atirando no próprio pé", e afetando o comércio mundial, disse Bergo, que também leciona na Universidade de Brasília (UnB).

No mês passado, Trump adotou tarifas elevadas de 25% e 10% sobre as importações de aço e alumínio, respectivamente, e tarifas de até 60 bilhões de dólares americanos para produtos chineses importados.

Mais tarde, ele isentou alguns países dos impostos onerosos, incluindo México, Canadá e Brasil, mas muitos observadores temem que a medida possa interromper o comércio internacional e, por extensão, o crescimento econômico global.

"Se os EUA mantiverem esse conservadorismo em relação às importações, reduzirá o volume de comércio e todo o mundo acabará perdendo", afirmou o economista.

Trump parece estar cumprindo suas promessas de campanha de proteger os trabalhadores dos EUA através do protecionismo, "mas o que vai acontecer é que as medidas vão aumentar o custo dos produtos no mercado dos EUA", previu Bergo.

Domesticamente, as tarifas devem elevar os custos ao longo de toda a cadeia produtiva de automóveis e eletrodomésticos, disse ele.

As relações comerciais de longo prazo dos EUA com os principais parceiros também sofrerão como resultado, continuou Bergo.

"Essa política é muito perigosa para os próprios americanos, porque acaba prejudicando o que é mais importante nos laços comerciais, que é a confiança", disse ele.

"Atualmente, com a globalização, isso coloca os Estados Unidos à margem, não apenas em questões de comércio. Adotaram a mesma atitude em questões do clima ao se retirarem do acordo de Paris", disse ele, acrescentando que "essa política externa está isolando os Estados Unidos", com atitudes que são bastante perigosas .

Como o isolacionismo vai contra a política externa tradicional dos EUA, resta saber até que ponto as propostas de Trump serão implementadas, disse Bergo.

"Historicamente, os Estados Unidos e (ex-presidente Barack) Obama trabalharam muito na abertura e no fortalecimento de algumas parcerias. Acho que o atual governo dos EUA (...) está adotando uma postura errática. Acho que o tempo mostrará que não está seguindo o caminho certo e terá que retroceder em alguns casos ", disse o economista.

O protecionismo de Trump parece ser claramente direcionado à China, um país que registrou forte desenvolvimento e crescimento nos últimos anos, com uma próspera indústria siderúrgica e setor de tecnologia, disse Bergo.

"Parece-me que, quando os EUA adotam uma posição contra o aço, o alumínio e os bens de alta tecnologia, estão buscando essa meta, que é uma briga com o governo chinês", disse Bergo.

"A China produz 830 milhões de toneladas de aço e acaba sendo um dos países mais afetados por essa política dos EUA", afirmou.

Em contraste, os Estados Unidos não produzem o suficiente para atender sua demanda interna e precisam importar o metal.

"Acho que os EUA e a China terão que sentar e conversar. A China pode sofrer um impacto econômico negativo, por um lado, mas por outro, tem um enorme potencial de negociação, já que a China é o principal credor dos EUA", disse o economista. 

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