Por Liu Guobin, Bi Yuming e Rafael Lima
Beijing, 21 mar (Xinhua) -- Após dois anos de contração, a economia brasileira cresceu 1% em 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Tanto em 2015 como em 2016, o país sul-americano teve contração de 3,5%. Especialistas atribuíram a recuperação no ano passado parcialmente ao mercado chinês, indicando que com a extensão da Iniciativa do Cinturão e Rota para a América Latina e a promoção chinesa da globalização econômica, a cooperação sino-brasileira nas áreas de economia, comércio e investimento terá uma maior expansão.
Zhou Zhiwei, diretor executivo do Centro de Estudos Brasileiros da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse que nos últimos cinco anos, a cooperação sino-brasileira na economia e comércio foi fortalecida em meio à contração da economia brasileira, acrescentando que o grande mercado chinês ofereceu um apoio ao comércio exterior do Brasil.
Ao mesmo tempo, o capital chinês entrou no Brasil a um ritmo mais rápido e todos estes elementos promoveram parcialmente a recuperação da economia brasileira, acrescentou.
De acordo com Zhou, a China emitiu um sinal positivo de abertura e acelerará a cooperação econômica e comercial internacional via a Iniciativa do Cinturão e Rota, o que vai facilitar a elaboração e o ajuste da própria estratégia de desenvolvimento dos países latino-americanos como o Brasil, a fim de combiná-la com a iniciativa chinesa.
A Iniciativa do Cinturão e Rota, proposta pela China em 2013, visa construir redes de comércio e infraestrutura conectando a Ásia com a Europa e a África ao longo das antigas rotas comerciais da Seda em busca do desenvolvimento e prosperidade comuns.
Em janeiro de 2018, na segunda Reunião Ministerial do Fórum entre a China e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, representantes de 31 países da região aprovaram três documentos, entre eles, uma declaração especial sobre a Iniciativa do Cinturão e Rota. Isso mostrou um alto consenso entre os países latino-americanos sobre o aprofundamento da cooperação com a China. A iniciativa é a nova guia da cooperação sino-latino-americana para o futuro e demonstra que a cooperação bilateral entrou em uma nova etapa, dando impulso à construção da sociedade de futuro comparitlhado China-América Latina e à criação da parceria de cooperação integral entre as duas partes.
A Iniciativa do Cinturão e Rota é uma iniciativa ambiciosa que poderá, com o empenho da China, se tornar um importante projeto de desenvolvimento dos países latino-americanos, disse Evandro Menezes de Carvalho, diretor do Centro Brasil-China da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor de Direito Internacional da Universidade Federal Fluminense, no Brasil.
"Não se trata de promessa. Os investimentos chineses já estão na América do Sul, já estão no Brasil. A ideia é promover as relações comerciais a partir da construção de estradas, ferrovias, ampliação das malhas aéreas e da via marítima. Isso tem um sentido concreto. Essa infraestrutura e integração do comércio terão como consequência a promoção de um maior contato dos povos", explicou o professor brasileiro em entrevista exclusiva à Xinhua.
A China e o Brasil estabeleceram uma relação madura e sólida como os maiores países em desenvolvimento dos hemisférios oriental e ocidental e como importantes economias emergentes. Em 2009, a China substituiu os Estados Unidos como o maior parceiro comercial do Brasil, que é atualmente o maior parceiro comercial da China na América Latina. Os laços econômicos e comerciais entre a China e o Brasil se tornaram cada vez mais estreitos com resultados prósperos em áreas de finanças, investimento, comércio, etc.
Nos últimos anos, o investimento chinês no Brasil cresceu rapidamente. Além de infraestrutura, energia e mineração, a China também investiu em setores brasileiros de finanças, manufatura, tecnologia, informação, serviços e comércio eletrônico. Zhou disse que a cooperação econômica e comercial China-Brasil é mutuamente benéfica e complementar. "Cada vez mais o Brasil concorda com a iniciativa chinesa as áreas de cooperação serão ampliadas", acrescentou.
As primeiras sessões da 13ª Assembleia Popular Nacional (APN, o mais alto órgão legislativo chinês) e do 13º Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPCh, o principal órgão de consulta política da China), conhecidas como as Duas Sessões, mostraram que a China se abrirá ainda mais ao exterior, ampliará as áreas de abertura e elevará seus níveis, defenderá e promoverá a globalização econômica, participará ativamente da governança global e se dedicará à construção de uma sociedade de futuro compartilhado para a humanidade.
A Iniciativa do Cinturão e Rota foi a nova declaração chinesa de insistir na reforma e abertura e a participação do país no comércio internacional impulsionou a economia global. Em meio à onda de protecionismo comercial, a China continuou a promover a globalização e obteve o reconhecimento dos países em desenvolvimento.
Para Evandro de Carvalho, a abordagem chinesa de promover uma maior cooperação e conectividade com a América Latina, atualmente pautada nos investimentos em setores importantes como energia, infraestrutura, agricultura e petróleo, pode ir um pouco mais além. "É nesse sentido eu levo em consideração o projeto do Cinturão e Rota. Um projeto ambicioso que, se realizado, será uma verdadeira revolução econômica na Ásia e no mundo", disse.
Gaio Doria, estudante brasileiro da Universidade Renmin, em Beijing, e especialista em teoria do Socialismo com Características Chinesas, assinalou que a Iniciativa do Cinturão e Rota "tem um grande potencial no Brasil e na América Latina" e "é uma excelente maneira de casar a oferta chinesa de investimento direto e a demanda dos países latino-americanos por infraestrutura".
O professor José Medeiros da Silva, da Universidade de Estudos Estrangeiros de Zhejiang, em Hangzhou, disse que o caminho do desenvolvimento chinês é centrado no princípio da cooperação. É um caminho muito diferente do trilhado por outras potências que dominaram o cenário internacional nos dois últimos séculos. "Ao invés de imposição, a China procura fortalecer seus vínculos de amizade com base no relacionamento econômico, politicamente benéfico. A ascensão econômica da China abre uma nova janela de oportunidade para o fortalecimento da soberania dos países em desenvolvimento, especialmente países como o Brasil. Cabe saber aproveitá-la".
Medeiros, que há mais de dez anos trabalha na China formando jovens chineses que ajudam na construção da ponte econômica e civilizacional entre a China e o mundo lusófono, lembrou que o incentivo da cooperação entre os povos e países em desenvolvimento é uma das principais diretrizes do governo chinês.
"A China tem deixado claro, e isso foi reforçado nessas Duas Sessões, que está aberta à participação de todos os países na construção da Iniciativa do Cinturão e Rota. Claro que essa iniciativa impulsionará também a cooperação sino-latino-americana e levará o desenvolvimento da região a um novo patamar", disse.
Medeiros reforçou ainda que na época atual, os interesses dos povos e dos países estão cada vez mais interligados. "Como tão bem enfatizou o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, em entrevista recente durante as Duas Sessões, ao se referir sobre as relações entre a China e a América Latina, 'a distância entre o mar e a montanha não é um obstáculo quando se tem uma vontade comum'".
Para Gaio Doria, a política de reforma e abertura "abriu o caminho do Socialismo com Características Chinesas e demonstrou uma nova via de desenvolvimento socialista". "As relações sino-brasileiras são naturalmente impulsionadas pela expansão da economia chinesa e da crescente internacionalização do país", comentou. Ele assinalou que "a necessidade de trocar experiências de governança e de fazer negócios tendem a se aprofundar na mesma medida que se aprofunda a reforma e abertura".
O Brasil espera que a China continue impulsionando a Iniciativa do Cinturão e Rota e desempenhe um papel mais importante na economia e governança globais, destacou Gaio.