Condenações elaboradas por Tillerson sobre a presença chinesa na África são fúteis, dizem especialistas

Fonte: Diário do Povo Online    12.03.2018 15h29

Por Li Yan, China News

O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, teria feito uma intervenção positiva, caso tivesse encurtado um pouco o seu discurso de 27 minutos no dia 6 de março, na Universidade George Mason, antes de embarcar em uma viagem a 5 nações africanas.

Ao invés disso, escolheu culpabilizar a China pelas suas atividades em África, dizendo que elas encorajaram a dependência, pela via do uso de contratos opacos, práticas predatórias de empréstimos, e acordos corruptos, que visam as nações em dívida e usurpam a sua soberania, negando o seu crescimento autossustentável a longo prazo.

O principal diplomata estadunidense atacou também a China, rotulando-a de “potência colonial” antes da sua viagem à América Latina, há um mês atrás, tendo sido encarado pelo ministro do Comércio e Turismo peruano, Eduardo Ferreyros, que elogiou a China como um bom parceiro comercial.

O mesmo se aplica a África. “Eu penso que os africanos são ponderados o suficiente para firmarem parcerias de acordo com os seus interesses para os seus respetivos países – para os países e para o continente”, disse o presidente da União Africana, Moussa Faki, em resposta às críticas de Tillerson, durante uma coletiva de imprensa conjunta na quinta-feira.

O ministro das Relações Exteriores do Djibouti, Ali Youssouf, desvalorizou o mediatismo da dívida do seu país à China, declarando que “é mais do que gerenciável” e “deixem-me primeiro sublinhar o fato de que nenhum país pode desenvolver-se sem ter uma infraestrutura sólida. A China é, dessa perspetiva, um parceiro muito bom”.

Com efeito, quando Tillerson aterrizou em Addis Ababa, capital da Etiópia, na última quarta-feira, na primeira paragem da sua tourné, ele deverá ter ficado surpreendido ao se deparar com um sistema de monotrilho moderno, ali construído pelo China Railway Group Ltd, cujas operações tiveram início em 2015, um ano depois de eu ter feito um périplo de reportagens nesta nação africana.

Ele deverá também ter sido brindado com uma via férrea de 759km entre Addis e o vizinho Djibouti, que iniciou suas operações comerciais a 1 de janeiro deste ano. Mais de 95% do comércio com a Etiópia atravessa o Djibouti.

Quando Tillerson alegou que os EUA preveem um futuro auspicioso na África, eu pensei que ele se referia à China. Não somente porque escrevi sobre o otimismo chinês no continente, mas porque a BBC escreveu também na semana passada que as firmas de construção chinesas garantiram melhorias significativas em infraestruturas há muito negligenciadas em vários países da região.

Os Chineses acreditam que a Etiópia, tal como vários outros países africanos, têm o potencial de repetir o milagre econômico chinês, enquanto, simultaneamente, podem evitar os erros que a China cometeu nas últimas quatro décadas.

Tillerson deveria ter viajado ao longo da Zona Industrial Oriental em Dukem, logo à saída de Addis, onde as empresas chinesas estão contribuindo para a modernização industrial local, formando trabalhadores e criando dezenas de milhares de empregos. Tal invalidaria instantaneamente todas as suas acusações face à China.

David Dollar, ex emissário do Tesouro norte-americano em Beijing durante a administração Obama, também outrora diretor do Banco Mundial para a China, elaborou, certa feita, uma investigação extensiva sobre a atividade chinesa na África e América Latina. Quando requisitei o seu depoimento sobre Tillerson, recentemente, e Hillary Clinton, há alguns anos, ele denunciou suas palavras como “absurdas”, “difícil de corroborar com provas” e “uma humilhação” para os países africanos e latino americanos.

Douglas Paal, director do programa da Ásia, na Carnegie Endowment for International Peace, acabou de voltar de uma viagem de busca de fatos na África. Durante uma conversa na Brookings Institution, na última quarta-feira, ele elogiou a atividade econômica da China no continente e disse que os países locais a apoiavam.

Paal, especialista em assuntos chineses, serviu a administração de George H. W. Bush, apelidando o discurso de Tillerson na terça-feira de “terrível”, “um discurso pobre concetualmente e taticamente contraproducente” e “conduz a política americana na direção errada”.

Deborah Brautigam, diretora da China-Africa Research Initiative na Escola Johns Hopkins School of Advanced International Studies, foi citada pela CNN no sábado dizendo que Tillerson se assemelha à secretária Clinton.

 “Ele está fazendo alguns dos mesmos erros básicos em termos de análise do que a China está fazendo em África”, disse Brautigam, acrescentando que acusar o investimento chinês de criar poucos empregos “não reflete com precisão a situação em vários países”.

O discurso de Tillerson pode visar distrair as nações africanas relativamente à ira face ao Presidente Donald Trump, que, alegadamente, tratou os países africanos em janeiro como “países de mer**”, ou mesmo das ações do próprio Tillerson que, previamente, promoveu acordos com países africanos amplamente acusados de corrupção e de problemas com direitos humanos, na sua capacidade de chefe executivo da Exxon Mobil. As exportações de petróleo africano correspondem a 90% do comércio EUA-África.

O fato de Tillerson ser o oficial de maior patente a visitar a África em 14 meses após a administração Trump ter arrancado, comprova a falta de interesse no continente. O atual Departamento de Estado ainda não preencheu a vaga de secretário assistente para os assuntos africanos.

Os EUA têm também vindo a cortar o financiamento aos seus programas USAID na África, bem como a para as operações de manutenção da paz da ONU, grande parte das quais se desenrolam em solo africano.

Independentemente do motivo, o esquema de Tillerson não deverá ser bem-sucedido face ao enorme entusiasmo chinês e ao otimismo nas nações africanas. Com certeza, África beneficiaria sobejamente mais se os EUA, ao invés da sua crítica constante, pudessem unir esforços com a China no desenvolvimento do enorme potencial do continente.

(Web editor: Renato Lu, editor)

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