O jornal chinês Jilin Daily dedicou uma página inteira da sua edição de quarta-feira para aconselhar os seus leitores a tomarem medidas de proteção em caso de explosão nuclear, o que atraiu a atenção pública. Embora o segmento possa ser parte de uma rotina do programa nacional de educação para a defesa, ele assinala a escalada de tensões na Península Coreana e as suas possíveis consequências.
Durante este período crítico, uma relação saudável entre a China e a República da Coreia é crucial para restaurar a paz na península, bem como na região. Esperamos que a visita do Presidente Moon Jae-in, da República da Coreia, à China na próxima semana possa lançar as fundações para uma relação bilateral saudável e frutífera, agora mais necessária que nunca.
De fato, a relação entre a China e a Coreia do Sul melhorou depois que os dois países concordaram na forma de lidar com o sistema THAAD, entre outras questões. No entanto, as relações bilaterais estão ainda longe de estar perfeitas, e as respetivas escolhas tomadas por ambas as partes terão impacto, não só na situação no noroeste da Ásia, mas também no relacionamento China-EUA.
A Coreia do Sul, ultimamente, tem estado mais dependente dos EUA, devido ao programa da RPDC que, em grande medida, é responsável por aumentar as tensões na península. O último lançamento de um míssil balístico intercontinental pela RPDC atesta que o país poderá, presumivelmente, lançar uma arma nuclear capaz de atingir qualquer ponto territorial dos EUA. A possibilidade de uma “guerra não intencional” não pode ser descartada, devido ao “jogo arriscado” levado a cabo pelo Presidente Trump com a RPDC.
Pior ainda, embora existam razões mais que suficientes para Beijing e Seul aprofundarem os seus laços bilaterais, a estratégia norte-americana para a Ásia-Pacífico da construção de uma região “Indo-Pacífica” livre e aberta, com a ajuda ativa do Japão, Austrália e Índia, que muitos analistas descrevem como direcionada a conter o crescimento pacífico da China, representa um novo desafio e levanta incertezas para as relações sino-sul-coreanas.
Se Seul se tornar um participante ativo na estratégia “Indo-Pacífica” de Washington, então irá reforçar a aliança EUA-Japão-Coreia do Sul. Mas ao fazê-lo, irá representar uma ameaça para a China, bem como piorar a situação no nordeste asiático, o que poderá gerar um conflito com a China.
A estratégia dos EUA é a de forçar a China a colocar pressão sobre a RPDC para lá da sua capacidade, de modo a cessar o programa nuclear. Tendo em conta este fator, os países vizinhos da China que são aliados dos EUA têm de decidir aquilo que é do seu interesse nacional: ajudar os EUA a cumprirem os objetivos da sua estratégica egocêntrica do “Indo-Pacífico” ou cooperar com a China para restaurar a paz na região e promover o desenvolvimento das suas economias.
O desafio para a China é a forma como serão melhoradas as relações com os seus vizinhos e expostas as “restrições” impostas pela estratégia americana do “Indo-Pacífico”. Talvez a China deva desenvolver relações políticas e económicas separadamente com os seus vizinhos, através da cooperação aprofundada.
Tendo em consideração que um confronto entre os EUA e a China será também danoso para a Coreia do Sul, esta última deveria incorrer de mais esforços para conter a ameaça nuclear da RPDC através do diálogo, ao invés da agressão, a via que os EUA preferem.
A China e a Coreia do Sul devem fazer uso da questão do THAAD para refletirem sobre os laços bilaterais. O sistema THAAD constitui uma ameaça à segurança da China e compromete a posição da Coreia do Sul no que concerne a resolver a questão nuclear da Península Coreana. Porém, dado que os EUA beneficiam de uma disputa entre Beijing e Seul – pois podem usar essa disputa para reforçar as suas alianças com a Coreia do Sul e o Japão, e, assim aumentar a sua influência na península –não pretendem testemunhar uma melhoria das relações entre Beijing e Seul. Mesmo que isso signifique que Pyongyang terá um pretexto para levar a cabo mais testes nucleares e lançamentos de mísseis.
A melhor forma de resolver a questão nuclear da Península Coreana é envolvendo as partes envolvidas, incluindo os EUA e a China, para encontrar uma resolução pacífica através do diálogo. Deste modo, Beijing e Seul devem estar conscientes da importância de um relacionamento bilateral saudável na manutenção da paz e estabilidade na península, bem como na região Asia-Pacífico. Uma Ásia-Pacífico estável e próspera irá melhorar, não só o relacionamento China-Coreia do Sul, mas também as relações internacionais.