Lhasa, China, 29 mar (Xinhua) -- Funcionários e milhares de habitantes se reuniram na terça-feira em Lhasa, capital da Região Autônoma do Tibete, no sudoeste da China, para celebrar o Dia da Emancipação dos Servos.
"Posso dizer com orgulho que o Tibete está cheio de vigor como nunca antes. Centenas de flores estão florescendo", disse Qizhala, presidente do governo regional tibetano, usando uma expressão chinesa para descrever esse tempo liberal e próspero.
O Dia da Emancipação dos Servos foi estabelecido formalmente em 28 de março pela legislatura regional em 2009 para marcar o começo da democracia tibetana, que acabou com o sistema feudal de servos em 1959, libertando 1 milhão de servos da região, 90% da população tibetana na época.
Qizhala contou os progressos econômicos, sociais e religiosos no ano passado, durante o qual o crescimento econômico, investimento em ativos fixos e renda disponível per capita no Tibete lideraram as regiões de nível provincial em toda a China.
"A solidariedade étnica se tornou mais firme nos corações do povo. Esforços foram feitos para garantir a harmonia em assuntos religiosos, rituais religiosos e em mosteiros budistas", disse ele.
Na terça-feira, mais de 3 mil funcionários, estudantes, aposentados e outros membros do público se reuniram na Praça do Palácio Potala em Lhasa para uma cerimônia de hasteamento de bandeira.
"Aprendi a cantar o hino nacional na escola. O ano após a emancipação, uma escola elementar foi construída na minha vila. Eu fui lá, embora já tivesse 13 anos", lembrou Dondrup Gyalpo, que chegou cedo ao palácio para a ocasião.
"Os jovens nunca têm que passar pelos velhos tempos crueis, mas é difícil para idosos como eu esquecê-los", assinalou ele.
Quando a notícia de emancipação chegou à terra de Dondrup no distrito de Maizhokunggar de Lhasa, sua família não ousaram avisar os senhorios. "Tínhamos medo de receber retaliação deles, mas sinceramente estávamos contentes de celebrar o fim da fome e insegurança de viver debaixo de telhados de outros", disse ele.
Em Nyingchi ao sudeste de Lhasa, as celebrações do Dia da Emancipação dos Servos coincidiram com um festival de flores de pêssego. Doje, aposentado de 73 anos, não pode resistir e dançou com os atores na cerimônia de abertura do festival.
"Aprendi a dançar quando comecei a trabalhar aos 18. Agora sou membro de um clube de dança e eu apresento danças para moradores nas aldeias", manifestou Doje.
"Observo os jovens e penso na minha infância, sobre a qual minha única memória era fome e trabalho infinito para os senhorios", lembrou ele.
"Lembro que reclamava à minha mãe que estava com tanta fome até que não havia nenhuma gordura na minha barriga. E minha mãe disse,'Meu filho, não posso fazer nada'", disse Doje.
Padain, também um aponsentado, passou sua infância em um mosteiro depois que foi enviado lá por sua família. "Meus pais não me podiam sustentar. Todos meus cinco irmãos e irmãs saíram para ser mendigos", contou Padain.
"A vida no mosteiro era muito difícil. Você só podia ter o que as pessoas traziam. Minha roupa estava cheia de piolhos", disse ele.
Padain passou sua vida como aposentado lendo livros e jogando xadrez. "Gostava de escrever a história da minha vida, e há muito para escrever", assinalou.