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Governo brasileiro prevê prejuízo de US$ 1,5 bilhão nas exportações brasileiras de carne causado pela operação "Carne Fraca"

Fonte: Xinhua    23.03.2017 14h39

Rio de Janeiro, 23 mar (Xinhua) -- O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, previu na quarta-feira que o Brasil deverá ter um prejuízo de até US$ 1,5 bilhão por ano devido aos desdobramentos da Operação "Carne Fraca", deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira e que revelou um esquema de corrupção envolvendo fiscais do governo e produtores de carnes.

Em declarações durante a audiência pública conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e Agricultura do Senado, Maggi admitiu que o valor corresponde a 10% de "um volume de US$ 15 bilhões que exportamos por ano", em carnes e derivados.

Como exemplo de sua previsão, o ministro citou os dados da exportação de carnes, fornecidos pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Segundo Maggi, a média diária de exportação é de cerca de US$ 63 milhões, mas na última terça-feira, esta média caiu para US$ 74 mil.

De acordo com o MDIC, ao longo do mês de março, antes da operação, o valor diário das exportações variou de US$ 39 milhões a US$ 90 milhões.

"Estamos falando em números estratosféricos. Não sabemos ainda o tamanho da pancada que vamos receber", admitiu Maggi.

A divulgação pela Polícia Federal da Operação "Carne Fraca" repercutiu como uma bomba no mercado internacional de carne e derivados e, desde então, vários países anunciaram restrições aos produtos brasileiros.

Não obstante, o ministro da Agricultura assegurou aos senadores que os problemas identificados na operação não são predominantemente de qualidade da carne, mas sim problemas relacionados à corrupção e desvios de conduta.

"Quero defender o sistema brasileiro de controle, o sistema que atesta esses produtos. Não tenho dúvida nenhuma em afirmar que esse problema que aconteceu é localizado, pontual, um problema de desvio de conduta dos servidores".

Internamente, a Operação Carne Fraca tem gerado muitas críticas. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a divulgação da 'operação' por parte da Polícia Federal foi feita de maneira equivocada e prejudica o setor.

"Passou uma imagem generalizada de que tudo no Brasil é ruim, e não é isso", afirmou o presidente da ABPA, Francisco Turra.

A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) divulgou nota afirmando que as conclusões da Operação referentes aos danos à saúde pública não têm embasamento científico, uma vez que os peritos federais foram acionados pela Polícia Federal apenas uma vez durante as investigações e que o laudo resultante desse trabalho não comprovou tais danos.

Em entrevista à Xinhua, o professor da disciplina de Carne e Derivados da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade de Campinas, Sergio Pflanzer, concordou com as declarações do Ministério da Agricultura segundo as quais as fraudes apontadas pela operação carne fraca representam um desvio pontual que não reflete o rigor do sistema brasileiro de fiscalização, que existe há 102 anos.

"Por tudo que conhecemos da cadeia produtiva, seja na parte da indústria, do abate e da frigorificação, assim como dos que fazem o processamento dos derivados, podemos dizer que, em sua grande maioria, são indústrias que possuem um sistema de fiscalização presente e eficiente", assegurou o especialista.