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China, Brasil e América Latina, o enquadramento geral das relações para 2017: Entrevista com Stephan Mothe (2)

Fonte: Diário do Povo Online    23.01.2017 16h27
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O gigante asiático afigura-se, segundo o entrevistado , como um importante interveniente na captação de investimento — um dos suprarreferidos focos do Itamaraty — e na construção de infraestruturas de transporte e distribuição de energia, “uma das principais preocupações de qualquer governo brasileiro”.

Stephan Mothe cita, para ilustrar o problema, o exemplo da expressão “Custo Brasil”, um termo coloquial para descrever “o custo adicional de qualquer produto brasileiro, proveniente da infraestrutura deficiente e da burocracia convolvida”.

“Qualquer pessoa atenta aos números dos últimos anos vê a multiplicação do investimento de 2000 para cá, em áreas muito estratégicas para o Brasil”, tendo citado para tal a entrada de capital chinês na CPFL Energia, ou de empresas chinesas do setor tecnológico no mercado brasileiro.

Destaca-se ainda a abertura de unidades fabris chinesas “do setor manufatureiro e automobilístico, que geram muito emprego, em solo brasileiro. Tem outros setores que podem também chamar a atenção da China, para as empresas que estejam buscando se internacionalizar e ter produção no Brasil, o que lhes daria um bom acesso ao Mercosul”.

Mothe acentua também a importância dos demais formatos de cooperação. “O Brasil já tem com a China, por exemplo, o programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS) e programas educacionais de intercâmbio. O país teria interesse em enviar mais alunos para entenderem melhor a China e estudarem a experiência chinesa a vários níveis, não só na vertente económica, mas também técnica, em diversas áreas da engenharia e ciência, onde a China tem avanços notáveis. Ao mesmo tempo, claro, trazer alunos chineses para entender melhor o Brasil e identificar um pouco mais as oportunidades econômicas que possam haver deste lado do mundo”.

O nosso entrevistado viveu na China por 4 anos, e foi, ele próprio, aluno da Universidade Tsinghua, tendo ali realizado um mestrado em Desenvolvimento Internacional. “Tinha muito interesse em saber como a China estava nesse momento, na década de 2000, tirando tantas pessoas da pobreza, como estava se desenvolvendo tão rapidamente e como estava realizando esse crescimento económico inusitado na história da humanidade. Queria saber como as pessoas viviam isso...O meu objetivo final era aplicar um pouco desse conhecimento ao Brasil”.

No que diz respeito à cooperação da China com o bloco da América Latina e à visita do Presidente Xi Jinping ao continente, em novembro do ano transato, o nosso entrevistado cita Oliver Stuenkel: “‘O timing não podia ser mais perfeito’… Os Estados Unidos mostraram que iam mudar a sua maneira de se relacionar com o mundo, e, ao mesmo tempo, a China estava aparecendo como garante da globalização”.

Esta evolução marca o seguimento do primeiro Fórum China-CELAC, em janeiro de 2015, no qual foi constatada a importância das relações entre os dois blocos. Como tal, do evento resultou a elaboração de um plano quinquenal para a cooperação entre todos os participantes.

O facto da grande maioria dos países latino-americanos ter um deficit comercial com a China é apontado como um dos desafios para encontrar “uma relação mais equilibrada” entre os todos.

“As perspetivas tem um pouco a ver também com o estado macroeconómico. É preciso se verificar uma recuperação dos preços das commodities para que a balança comercial se equilibre um pouco mais”, argumenta, antecipando um “foco da diplomacia de todos os países para diversificar a pauta comercial e as relações como um todo... e que a China passe a ser um importante parceiro em outros tipos de cooperação: técnico-científica, de investimento, educacional, defesa e segurança, etc”. 


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