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Entrevista: Prof. José Medeiros da Silva analisa os últimos acontecimentos da crise política no Brasil (2)

Fonte: Diário do Povo Online    12.05.2016 16h35
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DPO: Diante do cenário atual, quais serão os desdobramentos dessa luta política?

José Medeiros da Silva: Agora estamos em um momento de ataque e defesa. Diante dessa realidade, a questão da governabilidade, seja por parte da Dilma ou do Temer, deixa de ter grande importância, apesar de que todos vão querer negar isso. Nesse momento, os operadores do sistema político nacional estão preocupados em fortalecer suas forças e posições. Eles sabem que a batalha principal ainda será travada. Estamos apenas em um começo de uma luta muito prolongada. Nesse sentido, a crise política ainda não chegou ao final do poço. Muitas coisas que impactem a opinião pública devem acontecer. Em outras palavras, teremos ainda muita turbulência até que as águas voltem a correr mais mansamente. Trata-se de uma luta política com pouco espaço para uma real mediação popular. Talvez aí resida o seu grande fracasso.

DPO: É uma situação política muito complexa, sim?

José Medeiros da Silva: Sim. Muito complexa e por isso chega a despertar muitas emoções. A votação da admissão do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados no dia 17 de abril mexeu tanto com a emoção dos brasileiros que a audiência da televisão deve ter superado a de uma final de copa do mundo, com o Brasil na disputa do título. Para entendermos melhor o que se passa, nada melhor do que usar a “metáfora” da guerra.

No campo de batalha atual digladiam-se dois grandes grupos. De um lado, um grupo liderado pelo ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff, reeleita em 2014; do outro, um grupo comandado pelo vice-presidente Michel Temer e os principais setores da oposição, derrotados nas últimas quatro eleições presidenciais.

E as batalhas dessa guerra ocorrem simultaneamente em quatro teatros de operações. Um é o próprio poder executivo, que logo será ocupado pelo vice-presidente Michel Temer. Do ponto de vista operativo, esse é o campo de batalha principal, pois é o poder que possui a chave do cofre. Um segundo é o poder legislativo, nomeadamente a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. A câmara jogou sua principal batalha no dia 17 de abril, quando autorizou a abertura do processo de impeachment. Agora é o protagonismo está nas mãos do Senado. A partir desse dia 13 de maio de 2016, ele terá até seis meses para decidir se Dilma perderá ou não o mandato de presidente. Se no julgamento final do processo ela conseguir o apoio de 28 dos 81 senadores poderá voltar ao exercício do cargo. Um terceiro teatro de operação é o do poder judiciário em sua expressão maior, o Supremo Tribunal Federal (STF). Em última instância será esse poder que legitimará ou não, do ponto de vista formal, as decisões do Senado. O quarto e mais importante palco dessa disputa é a sociedade como um todo, ou seja, o próprio povo. Esse é o teatro de batalha mais imprevisível de todos. E onde se travará a luta principal.

Em última instância, essa “guerra” pelo controle do poder político no Brasil será outra vez decidida pelo povo, isso pressupondo-se que ainda prevaleça a democracia. Por mais que se deseje adiar a convocação do povo para decidir sobre a crise, esse será um caminho necessário e inevitável. Ou seja, só o povo tem a autoridade para definir o curso desse processo. Se é verdade que grande parte da opinião pública rejeita a presidente Dilma, também é verdade que ela não demonstra confiança em Temer ou no grande conjunto dos atuais operadores da política brasileira. O Congresso e STF poderão garantir apenas a legitimidade formal. Em última instância, será o povo que dará legitimidade real. Não se pode esconder o povo por tanto tempo.


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