A visita do Primeiro-ministro Li Keqiang à Malásia está a ser marcada por um ritmo alucinante. Quem é realmente posto à prova, contudo, é o staff do ministério dos negócios estrangeiros, que não tem mãos a medir para uma agenda tão preenchida. O trabalho é tanto e a agenda tão exigente que mesmo algumas reuniões de alto nível têm de furar blocos na agenda para que seja possível garantir a presença do líder chinês em todas elas. Com efeito, no dia 22, Li Keqiang fizera uma viagem ao estado de Malaca, a 150km de Kuala Lumpur, e, quando regressou à capital da Malásia, já o sol se tinha posto.
Além do curto encontro com o chefe de estado e a sua esposa, da participação no simpósio sobre o parque industrial sino-malaio, entre outros eventos: visita ao estreito de Malaca; visita ao Museu Baba Nyonya; visita ao Centro Cultural Zheng He, assim como o convívio com velhos amigos e degustação algumas das iguarias locais, o tempo parece não dar tréguas.
Da visita destaca-se o episódio da deslocação ao estreito de Malaca. Aqui, Li Keqiang reafirmou a resolução chinesa para com a paz, amplamente divulgada à comunidade internacional.
Há 600 anos atrás, o navegador Zheng He deu neste ponto geográfico início à causa da paz. A China contemporânea tem a obrigação moral de lhe dar continuidade. A presença de Li Keqiang personifica esse espírito. O primeiro-ministro segue as pisadas do seu antecessor, prestando uma prova de compromisso para com as sementes lançadas pelo almirante, e de respeito para com o seu legado histórico para os esforços diplomáticos da nação.
Esforços que, de resto, Li Keqiang já frisara anteriormente. Em primeiro, por escrito, aos meios de comunicação da Malásia: “Na época, durante a sua viagem, este foi um dos pontos de paragem. Durante a sua presença no território, Zheng He não realizou qualquer atividade colonial ou de expansionismo, não roubou ou pilhou. A herança que deixou foi uma de paz e de confraternização”.
Em segundo, por via oral. Durante a reunião da China e dos líderes da ASEAN, Li Keqiang disse: “Durante o início do século XVI, o almirante chinês Zheng He lançou-se aos mares com a esquadra mais avançada e de maior dimensão da época, percorrendo uma vasta área marítima. Aquilo que trouxe aos territórios por onde passou não foi violência, pilhagem ou uma atitude colonial. Ao invés, deu a conhecer a porcelana, a seda, o chá. Contribuiu para fundar uma relação de amizade que perdura até hoje. A estabilidade e a paz que imperavam há 600 anos neste oceano, continuam hoje, 600 anos depois.”
Esta posição tem lógica e tem força, pois, face aos recentes desenvolvimentos relativamente à interrogação em torno da paz ou da divergência alusiva à liberdade de navegação das ilhas Nansha – várias vezes publicitados de forma negativa ao ponto de ser posta em causa a posição pacífica da China - se cada país atentar aos pressupostos estipulados nas leis internacionais, facilmente depreendem que não existem quaisquer obstáculos.
Li Keqiang veste a pele de Zheng He e vem, 600 anos mais tarde, imbuído do mesmo espírito, fazer votos para que a relação de amizade e os índices de cooperação prosperem entre a Malásia e a China.
Edição: Mauro Marques