RIO DE JANEIRO, 14 de setembro (Diário do Povo Online) - A desaceleração da economia chinesa está a decorrer de uma maneira bem pensada e não é necessariamente um motivo de preocupações, explicou à imprensa chinesa, Livio Ribeiro, economista brasileiro numa reflexão sobre as políticas do governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para Ribeiro, a desaceleração da economia Chinesa deve-se a aspectos estruturais e conjunturais. Entre os factores conjunturais, ele observou algumas medidas anticíclicas tomadas pelo país para lidar com a crise internacional que começou em 2008, o que levou a um aumento dos empréstimos.
Mas o mais importante, para o especialista, é que o modelo estrutural da China, que também contribuiu para a desaceleração, também está mudando, o que conduziu a uma menor taxa de crescimento econômico.
Segundo ele, a China está fazendo uma transição de um modelo com um forte apoio aos investimentos e foco na demanda internacional por um modelo no qual o consumo e serviços têm um papel mais forte, o facto da China estar a crescer a uma ritmo mais lento agora não é necessariamente algo negativo.
"Eu não estou preocupado com a desaceleração da economia chinesa. Eu me preocuparia mais se o governo chinês tentasse alcançar uma taxa de crescimento no curto prazo a qualquer custo", disse ele.
Ribeiro considerou que essa mudança é saudável para a economia chinesa e observou que, embora a China tenha uma maior taxa de crescimento no início deste século, agora tornou-se uma economia maior e com mais importância no cenário global que no passado.
"Em termos de absorção de bens e serviços, a China é agora mais relevante do que era no início da década de 2000", disse ele acrescentando que "então, deve-se olhar com muito cuidado para os números da desaceleração, porque esses números não são a única informação importante".
O especialista brasileiro previu que a China continuará com uma taxa de crescimento baixa entre 6 e 6,2 por cento até ao final desta década, mas disse que este será um bom resultado, se feito da forma como foi feito até agora.
A maior integração da China com outras regiões e sua abertura ao mundo é importante, de acordo com Ribeiro, bem como o aumento da sua presença no mundo é um projeto estadual que está sendo realizado de forma eficiente.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, e sua vontade de investir e ampliar os laços com a América Latina, como evidenciado pela visita do primeiro-ministro Li Keqiang à região este ano, poderia beneficiar o Brasil num momento em que o país da América do Sul enfrenta problemas políticos e uma recessão econômica, na extrema necessidade de um impulso, disse o especialista.
Para Ribeiro, o Brasil precisa de diversificar mais conexões com a China, sem deixar de ser um exportador de matérias-primas e metais, mas investir mais na exportação de produtos agrícolas, carne e serviços.
O Brasil exporta mais bens para a China do que outros produtores de matérias-primas e, como resultado, tem uma posição mais confortável do que outros países sul-americanos no comércio com o gigante asiático. Contudo precisa de investir mais no modelo de transição que a China procura.