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Uso do yuan em transações aumentará presença da China no Brasil e reduzirá dependência do dólar, afirmam economistas

Fonte: Xinhua    29.07.2023 16h37

O anúncio por parte do governo brasileiro de que permitirá a realização de transações internacionais em yuan, a moeda chinesa, deve aumentar a presença da China tanto no Brasil como na América do Sul e reduzir a importância do dólar na região, segundo explicaram economistas brasileiros à Xinhua.

Para a professora de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Cristina Pinto de Melo, "o yuan já vem ampliando bastante sua atuação, e acredito que o importante é ter uma demanda maior de yuans. Para isso, se necessita fortalecer o mercado de títulos em yuans, um mercado que tenha liquidez, no qual as pessoas possam fazer investimentos, aplicações e composição de reservas internacionais. Desta forma, se aumenta significativamente a posição do yuan no mercado mundial".

Segundo ela, "com a China aumentando bastante sua participação no mercado internacional e nos mercados locais, há um maior interesse na demanda por esta moeda para facilitar uma ferramenta de intercâmbio, porque isso barateia as trocas internacionais, mas é fundamental que esteja acertado no mercado de títulos, com bastante liquidez e fortalecido", destacou.

Para o professor de Economia, Administração e Contabilidade Paulo Roberto Feldmann, o uso do yuan no Brasil e países sul-americanos tem toda a lógica do mundo, visto que a China é há alguns anos o maior parceiro comercial da maioria dos países da região e prognosticou que o yuan pode se converter na principal moeda de intercâmbio na região.

"A China é o maior parceiro internacional do Brasil e de vários países da América do Sul há muitos anos. Isto significa que boa parte das transações de compra e venda poderiam ser feitas em yuans, ou melhor, já podem ser feitas, porque é uma moeda muito utilizada na América do Sul. Não vejo nenhum problema para que isso cresça mais e deverá crescer, porque o comércio entre a América do Sul e a China tende a crescer muito, assim como os investimentos chineses na América do Sul também têm crescido muito", ressaltou.

Segundo Feldmann, "a China é um dos maiores investidores no Brasil, as empresas chinesas têm investido muito no Brasil e isso significa mais yuans chegando ao país. Isso significa que quando houver muita moeda chinesa no Brasil e na América do Sul, é possível que se transforme na principal moeda de intercâmbio entre os países, é uma grande possibilidade", destacou.

O economista brasileiro ressaltou que "a visita do presidente Lula à China deixou claro que teremos uma aproximação entre Brasil e China no uso da moeda. Creio que agora foi criado um caminho para que isso aumente cada vez mais, não vejo obstáculos para que ocorra, o que se necessita é que a China negocie cada vez mais, compre cada vez mais produtos na América do Sul, venda também e, principalmente que invista nos países sul-americanos, de preferência, em infraestrutura", comentou.

Para o politólogo Paulo Niccoli Ramírez, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o uso do yuan por parte de países sul-americanos é toda uma ruptura da dependência que esses países tiveram historicamente com os Estados Unidos.

"É uma ruptura do que no Brasil e na América Latina chamamos de teoria da dependência. O Brasil sempre foi muito dependente dos países do norte, ou seja, das potências econômicas europeias e dos Estados Unidos, fazendo com que boa parte das relações econômicas e diplomáticas brasileiras levassem o Brasil a ser um mero dependente passivo das decisões das grandes potências. Desde que Lula assumiu a Presidência, há uma retomada de uma política, uma geopolítica que chamamos Sul-Sul, ou seja, tentar traçar novas relações diplomáticas e comerciais entre os países em desenvolvimento", comentou.

"Isto faz parte da diplomacia e das relações econômicas brasileiras, buscar alternativas que reduzam a dependência do Brasil em relação às grandes potências econômicas, sobretudo os Estados Unidos. Um dos princípios foi usar exatamente a moeda chinesa para traçar relações comerciais, primeiro diretamente entre Brasil e China. A Argentina fez a mesma coisa com a China, e a partir de agora também terá produtos exportados e importados relacionados com a moeda chinesa", comentou Ramírez.

Outro dos motivos da decisão é que "a balança comercial brasileira é favorável em relação aos Estados Unidos em US$ 40 bilhões, mas com a China, é de US$ 90 bilhões. O Brasil exporta muitos produtos do agronegócio e, em contrapartida, importa dos chineses produtos de base tecnológica. Isso fez com que a diplomacia brasileira entendesse que é possível romper com o padrão dólar e estabelecer a moeda chinesa como mecanismo de relações comerciais", concluiu.

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