A Marinha do Brasil e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) iniciaram a produção nacional do radioisótopo Lutécio-177, considerado essencial para o tratamento de tumores neuroendócrinos e câncer de próstata, informaram nesta terça-feira fontes oficiais.
O reator de pesquisa IEA-R1 passou a operar ininterruptamente, em regime de plantão conjunto entre militares da Marinha e técnicos do IPEN, com o objetivo de fabricar insumos que, posteriormente, serão transformados em radiofármacos na radiofarmácia do instituto.
De acordo com o Almirante Alexandre Rabello de Faria, Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, a iniciativa representa um passo estratégico tanto para a formação de militares quanto para o avanço do programa nuclear brasileiro. "Esses militares estão servindo à sociedade produzindo um bem essencial, colaborando com a saúde pública", enfatizou.
O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Francisco Rondinelli Junior, afirmou que a cooperação simboliza "uma estrutura de entrega direta à sociedade", dotando o país de profissionais capacitados para explorar o potencial nuclear para a saúde e outras aplicações.
As primeiras amostras de Lutécio-177 já foram marcadas com PSMA (Antígeno de Membrana Prostática Específico), com resultados satisfatórios. A produção coincide com a comemoração dos 69 anos do IPEN e, embora ainda realizada em pequena escala, representa um passo fundamental para a autonomia nacional no setor.
Segundo Elaine Bortoleti, coordenadora do Centro de Radiofarmácia do IPEN, o reator não está em operação contínua há mais de uma década. "Produzir localmente significa reduzir a dependência externa, já que hoje quase tudo é importado", observou.
O Brasil gastou quase US$ 50 milhões entre 2023 e 2024 com a importação de radioisótopos como Molibdênio-99, Iodo-131 e o próprio Lutécio-177. As autoridades estimam que a produção nacional gerará economias significativas, fortalecerá a soberania tecnológica e ampliará o acesso de pacientes a terapias nucleares avançadas.
A cooperação entre a Marinha e o IPEN faz parte de um Acordo de Parceria em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação que visa capacitar operadores de reatores nucleares e promover a produção de insumos estratégicos. Com o início da produção de Lutécio-177, o Brasil dá um passo em direção à redução da dependência de importações e ao fortalecimento do sistema de saúde.