O presidente russo, Vladimir Putin (E), conversa com Steve Witkoff, o enviado especial do presidente dos EUA, Donald Trump, no Kremlin, em Moscou, Rússia, em 6 de agosto de 2025. (Assessoria de Imprensa do Kremlin/Xinhua)
As perspectivas de um avanço parecem incertas na cúpula Trump-Putin no Alasca, com os dois líderes abordando as negociações a partir de posições bastante diferentes e muitos dos aliados dos Estados Unidos alertando que qualquer acordo firmado sem a participação de Kiev carecerá de legitimidade.
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, devem se reunir em 15 de agosto no Alasca para discutir um possível cessar-fogo na Ucrânia, marcando as primeiras conversas entre os líderes dos dois países desde 2021.
Durante a campanha eleitoral de 2023 e 2024, Trump fez repetidas declarações de que encerraria a crise na Ucrânia em até 24 horas após sua vitória na presidência. A cúpula, o mais recente esforço de Trump pela paz na região, foi anunciada pela Casa Branca como um esforço de alto risco para pôr fim à crise na Ucrânia.
Mas as perspectivas de um avanço parecem incertas, com os dois líderes abordando as negociações a partir de posições bastante diferentes e muitos aliados dos Estados Unidos alertando que qualquer acordo firmado sem a participação de Kiev carecerá de legitimidade.
Os planos para o encontro presencial entre os dois líderes surgiram após a reunião de trabalho de três horas de Putin com o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, durante a visita deste a Moscou na quarta-feira (6).
Putin ofereceu esta semana ao governo Trump uma ampla proposta de cessar-fogo que exige concessões territoriais significativas de Kiev e busca a aceitação internacional das reivindicações da Rússia em troca do fim dos combates, informou o The Wall Street Journal, citando autoridades europeias e ucranianas.
O presidente russo, Vladimir Putin, participa de uma coletiva de imprensa no Kremlin em Moscou, Rússia, em 11 de maio de 2025. (Foto: Liu Kai/Xinhua)
Trump disse na sexta-feira (8) que pretendia garantir um cessar-fogo, sugerindo inclusive que a "troca de territórios" poderia fazer parte do acordo. Embora não tenha especificado o que isso implicaria, a frase atraiu resistência imediata da Ucrânia e de seus aliados.
A Ucrânia afirmou repetidamente que não aceitará nenhum acordo que ceda seu território. O presidente Volodymyr Zelensky criticou no sábado as negociações do Alasca por excluírem seu governo e alertou que uma paz duradoura não pode ser alcançada sem a Ucrânia na mesa.
"Qualquer decisão tomada contra nós, qualquer decisão tomada sem a Ucrânia, é ao mesmo tempo uma decisão contra a paz", disse Zelensky num discurso em vídeo. "Elas não trarão nada. São decisões mortas; elas nunca funcionarão", enfatizou ele.
As capitais europeias reagiram rapidamente à sugestão de Trump de uma troca de terras. Líderes da Comissão Europeia, França, Itália, Grã-Bretanha, Alemanha, Polônia e Finlândia emitiram uma declaração conjunta no sábado (9) afirmando que as fronteiras da Ucrânia, conforme reconhecidas internacionalmente, não podem ser alteradas pela força. A declaração ressaltou que a Ucrânia deve estar diretamente envolvida em quaisquer negociações relativas à sua soberania.
A última rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia, realizada em Istambul em 23 de julho, concluiu sem avanços em direção a um cessar-fogo, mas com um acordo sobre outra troca de prisioneiros, incluindo civis detidos.
Rússia e Ucrânia permanecem bastante distantes, enquanto trocas de ataques com drones e mísseis continuam a causar pesadas baixas e danos à infraestrutura.
Analistas avaliam que, mesmo que Trump e Putin concordem com princípios gerais, alcançar um cessar-fogo viável não será tarefa simples, já que a Rússia controla um território significativo, incluindo áreas que amplamente fortificadas no último ano, enquanto a Ucrânia permanece comprometida em recuperar suas terras.
A interrupção dos combates exigiria um acordo sobre a retirada de tropas, garantias de segurança e o futuro status das regiões em disputa — questões que desafiam a resolução desde o início do conflito em 2022. Sem mecanismos claros de execução qualquer trégua pode se desfazer rapidamente, alertaram especialistas.
Se a cúpula do Alasca levará a crise na Ucrânia a uma resolução ou consolidará um impasse frágil dependerá da capacidade dos líderes de superar as profundas divisões. Com posições endurecidas e a confiança escassa, um cessar-fogo, se chegar a acontecer, não será fácil.