O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou na quinta-feira que o país está disposto a negociar com os Estados Unidos a tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump às exportações brasileiras, mas criticou a falta de interesse do líder americano em abrir um canal de diálogo.
"Ele não quer conversar. Se quisesse, teria pegado o telefone e me ligado", declarou Lula durante evento em Minas Gerais. "Falei com Clinton, com Obama, com Bush, com Biden, com Xi Jinping, com a Índia, com o Canadá, ontem conversei 40 minutos com a presidente do México, conversei com Paraguai, Bolívia, Malásia, Indonésia... Converso com todos, mas ele não quis conversar", afirmou.
"O Brasil está acostumado a negociar. Tínhamos tido dez reuniões com os Estados Unidos. Em 16 de maio, enviamos uma carta pedindo explicações sobre as propostas que havíamos apresentado. Em 16 de maio, eles não responderam. A única coisa que responderam foi o site."
Lula enfatizou que, se sanções comerciais forem implementadas, o Brasil responderá aplicando a Lei da Reciprocidade.
O presidente também criticou as declarações recentes de Trump, que alegou que o Judiciário brasileiro está conduzindo uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente é investigado por seu suposto envolvimento em uma tentativa de golpe. Lula considerou essas declarações uma interferência nos assuntos internos do país e um ataque injustificado às instituições democráticas brasileiras.
As tensões diplomáticas entre os dois países se intensificaram após a Casa Branca anunciar que, a partir de 1º de agosto, imporá uma tarifa de 50% sobre uma ampla gama de produtos brasileiros, incluindo café, carne bovina, suco de laranja, aço e minério de ferro. Trump justificou a medida como uma resposta a supostas práticas comerciais desleais e retaliação a decisões judiciais no Brasil.
O governo brasileiro sustenta que a medida tem motivação política e busca pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz um processo contra Bolsonaro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou que o Brasil não abandonará a mesa de negociações, embora tenha culpado os Estados Unidos pelo congelamento do diálogo. "Não vamos sair da mesa. Se o nosso interlocutor não quiser se sentar, esse é outro problema", disse Haddad esta semana.
Além disso, o ministro alertou que mais de 10.000 empresas brasileiras serão afetadas e que os consumidores americanos também pagarão mais por produtos como café, carne bovina e suco de laranja. Haddad também criticou atores políticos que tentam usar o conflito comercial para "sabotar a economia brasileira em troca de ganhos eleitorais".
Nesse contexto, o governo brasileiro intensificou seus contatos diplomáticos com outros parceiros estratégicos e considera expandir acordos comerciais com a Ásia, América Latina e Europa, na tentativa de reduzir a dependência do mercado americano.