A cidade brasileira de Manaus (capital regional do Amazonas, norte) inaugurou nesta quinta-feira um ambicioso projeto ambiental e energético, o Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos (CTTR), uma nova infraestrutura projetada para converter resíduos sólidos urbanos em biogás, reduzindo significativamente as emissões de gases de efeito estufa e oferecendo uma solução sustentável para o problema do descarte inadequado de resíduos.
O CTTR, localizado em um terreno de quase 143 hectares, poderá receber resíduos de todos os municípios em um raio de 150 quilômetros. Embora apenas um terço do projeto tenha sido concluído, a unidade já iniciou as operações com a primeira de suas três células de descarte, com capacidade inicial de 1.200 toneladas por dia, volume que triplicará após a conclusão.
A iniciativa, que recebeu um investimento privado de 200 milhões de reais (US$ 35 milhões), representa um modelo inédito na região amazônica, integrando gestão de resíduos, produção de biogás, tratamento de líquidos poluentes e reuso de água industrial. O sistema de tratamento do chorume - um líquido altamente poluente derivado de resíduos - é feito por osmose reversa, gerando água desmineralizada para a indústria.
"Estamos transformando o que antes era um passivo ambiental em uma solução rentável e sustentável", disse Hugo Nery, CEO da Marquise Ambiental, empresa responsável pelo projeto. O CTTR também se destaca pela tecnologia de contenção e monitoramento, que evita vazamentos no solo ou no lençol freático, preservando o bioma Amazônia.
O projeto prevê a incorporação do biogás à rede local de distribuição de gás natural, o que contribuirá para a descarbonização do consumo energético urbano. "Com a inclusão direta do biometano, qualquer cliente poderá certificar a redução de sua pegada de carbono", explicou Nery.
Atualmente, mais de 40% do lixo urbano no Brasil é descartado de forma inadequada, segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). Para seu presidente, Pedro Maranhão, o modelo do CTTR pode ser replicado em outras cidades brasileiras.
Por sua vez, o Secretário Nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental, Adalberto Maluf, destacou o impacto socioeconômico do projeto: "O biometano a preços competitivos impulsiona a indústria, gera empregos de qualidade e fomenta a inovação, sendo uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento sustentável".
Quando estiver totalmente operacional, o CTTR poderá evitar a emissão de até 400 milhões de toneladas de CO2 equivalente anualmente, posicionando-se como referência nacional e internacional em economia circular e transição energética.
