Na cidade portuária de Salvador, no nordeste do Brasil, a gigante chinesa de tecnologia fotovoltaica Trina Solar estabeleceu sua terceira fábrica inteligente de estruturas de rastreamento solar, onde as linhas de produção são totalmente automatizadas.
Álvaro García-Maltras, presidente regional da Trina Solar para a América Latina, afirmou que o complexo industrial é voltado à fabricação do sistema de controle inteligente de usinas solares, considerado o "centro neural" da estrutura de rastreamento. Com a ajuda de algoritmos inteligentes avançados, esses dispositivos permitem que os painéis solares "sigam a luz de forma proativa", aumentando significativamente a geração de energia.
O executivo acrescentou que o Brasil ocupa uma posição de destaque no mercado global de estruturas de rastreamento fotovoltaico, representando 10% da instalação total mundial.
Reconhecendo esse potencial de mercado, a Trina Solar adotou uma estratégia ativa para contratar trabalhadores locais, fabricar e montar os principais componentes de seus produtos no Brasil. Isso não apenas reduziu os custos de produção, como também melhorou significativamente a eficiência nas entregas e no atendimento aos clientes brasileiros e latino-americanos em geral.
Em dez anos, a Trina Solar passou da primeira remessa de produtos para a América Latina para contar com duas filiais registradas no Brasil e no Chile, além de uma equipe local de mais de 100 pessoas, informou Yang Bao, presidente de marketing global da empresa. Hoje, a Trina Solar atua na região com um portfólio que inclui módulos fotovoltaicos, estruturas de rastreamento e sistemas de armazenamento de energia.
De acordo com previsões da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, em inglês), até 2050 a demanda anual por investimentos em energias renováveis na América Latina será de cerca de US$ 45 bilhões. Enquanto isso, empresas chinesas demonstram fortes capacidades no desenvolvimento e inovação em tecnologias de transição energética, transformação digital e manufatura inteligente.
"A história da Trina Solar é um testemunho da forte complementariedade entre China e América Latina. Os países latino-americanos possuem condições privilegiadas para o desenvolvimento de energias renováveis, e as tecnologias chinesas são ideais para liberar esse potencial e impulsionar a descarbonização e a sustentabilidade da região", afirmou Wang Fei, pesquisador do Instituto da América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
Desde 2012, a China tem se mantido como o segundo maior parceiro comercial e uma das principais fontes de investimento da América Latina, com o volume comercial bilateral já ultrapassando os US$ 500 bilhões.
A Nemak, com sede em Monterrey, no México, é uma empresa líder mundial em soluções inovadoras de redução de peso para a indústria automotiva. Em 2007, visando atender melhor seus clientes locais e aproveitar o imenso potencial do mercado automotivo chinês, a Nemak construiu sua primeira fábrica na Ásia, em Nanjing, capital da Província chinesa de Jiangsu.
Nos últimos anos, para eliminar os odores gerados durante a produção de moldes de areia, a fábrica da Nemak em Nanjing investiu significativamente na aquisição e atualização de equipamentos de tratamento de ar residual, além de melhorar seus processos de produção, tornando-se referência em sustentabilidade na indústria de fundição sob pressão da China.
"A China é o maior mercado consumidor de automóveis do mundo, e Nanjing e as cidades vizinhas formaram uma cadeia industrial completa que abrange pesquisa, design, fabricação e venda de automóveis. Isso nos dá acesso rápido a recursos da cadeia de suprimentos. Além disso, o ambiente de negócios em Nanjing é excelente, com serviços eficientes, como aprovação de projetos e registro de empresas", afirmou Alex Li, gerente geral da fábrica da Nemak em Nanjing. Com 18 anos de operações na cidade, a receita da empresa tem crescido de forma constante.
O avanço da China na produção de veículos de nova energia em escala global também abriu novas oportunidades para a Nemak. Atualmente, a empresa busca ativamente colaborações com fabricantes chineses de veículos elétricos.
"Os fabricantes chineses de veículos de nova energia têm exigências maiores em termos de controle de custos e velocidade de inovação, além de o volume de exportações de veículos ter aumentado significativamente, o que elevou rapidamente a consciência sobre qualidade e serviço. Como empresa global líder em redução de peso, nossas fortalezas se alinham perfeitamente às necessidades dos fabricantes locais. No futuro, apoiaremos as montadoras chinesas e cresceremos junto com elas, contribuindo para a cooperação econômica entre China e América Latina", disse Lance Li, diretor de operações da Nemak China.
Jiangsu, província que também sedia a Trina Solar, possui o segundo maior volume econômico da China e tem sido participante ativa, testemunha, e também se beneficiará da cooperação entre China e América Latina.
Sun Yi, diretor-geral do Escritório de Assuntos Exteriores de Jiangsu, explicou que a cooperação econômica entre a província e a América Latina entrou em uma "fase acelerada", com foco em três áreas principais: manufatura e cadeias de suprimento, energia e recursos minerais, e comércio agroalimentar.
Em 2024, o comércio entre Jiangsu e a América Latina atingiu US$54,77 bilhões, aumento anual de 3,9%, respondendo por 6,9% do comércio total da província e 10,6% do comércio total entre a China e a região.
"A cooperação econômica entre Jiangsu e a América Latina também está se expandindo para áreas emergentes, como energias renováveis e infraestrutura digital", destacou o funcionário.
Ao final do ano passado, 100 ônibus elétricos da marca King Long, vindos de Suzhou (outra cidade de Jiangsu), foram entregues em frente à residência presidencial do Uruguai, marcando o maior pedido de ônibus elétricos da história do país. Até agora, os veículos da King Long já chegaram ao Peru, Equador e Costa Rica, entre outros países latino-americanos.
Neste mês, o navio "COSCO Shipping Fountain" partiu do Porto Internacional de Contêineres de Suzhou carregado com mais de 3.300 toneladas de equipamentos, como guindastes e caminhões de mineração movidos a novas energias, com destino ao Porto de Chancay, no Peru, para apoiar o projeto de desenvolvimento das minas de cobre e ouro da Zijin Mining naquele país.
"Este é o primeiro navio de usos múltiplos enviado do porto de Suzhou para Chancay após a assinatura do acordo de irmandade entre ambos os portos, em março", destacou Li Haifeng, subdiretor do escritório de gestão do porto de Suzhou.
A abertura do Porto de Chancay encurtou a distância entre a China e o Peru, reduzindo o tempo de transporte de 35 para 25 dias e facilitando os intercâmbios econômicos entre Suzhou e regiões vizinhas com o Peru.
Segundo dados oficiais, no primeiro trimestre deste ano, as exportações do porto de Suzhou para o Peru -- incluindo automóveis e máquinas de construção -- atingiram valor aproximado de 500 milhões de yuans, com um crescimento anual superior a 30%.
Cidadãos da China e da América Latina também têm vivenciado de perto as oportunidades e os benefícios gerados pela cooperação entre as duas partes. Harold Steinvorth, da Costa Rica, ingressou na Trina Solar há seis anos e passou de vendedor a responsável pelos sistemas energéticos distribuídos pela empresa na América Latina.
"Comecei na indústria eólica e depois migrei para o setor fotovoltaico. A Trina Solar me ofereceu uma plataforma para desenvolver meu talento, permitindo aprofundar meus conhecimentos desta área e alinhar minhas aspirações profissionais ao crescimento da indústria", contou Steinvorth.
Ele ainda expressou esperança de que ambas as partes aprofundem a cooperação prática em áreas-chave como transição verde, economia digital e colaboração em capacidade produtiva.
Esse mesmo desejo é compartilhado por Víctor Cadena, vice-presidente executivo da Câmara de Comércio do México na China (MEXCHAM), que destacou a confiança e o otimismo das empresas mexicanas em relação ao mercado chinês e sua disposição de fortalecer as relações empresariais com a China com vistas a benefícios compartilhados e de longo prazo.