O embaixador Mauricio Lyrio, líder da presidência brasileira do BRICS, destacou nesta terça-feira o papel fundamental do grupo no combate às mudanças climáticas e no fortalecimento do multilateralismo, e enfatizou a contribuição de seus membros, como Brasil e China, na busca por soluções para a questão climática.
Durante sua participação no simpósio Conectando Clima e Natureza: Recomendações para Negociações Multilaterais, realizado em Brasília, Lyrio destacou o papel estratégico do grupo em um contexto internacional complexo e desafiador.
Segundo Lyrio, a presidência brasileira do BRICS assume a responsabilidade de fortalecer a posição e o comprometimento do bloco com resultados concretos nas negociações multilaterais sobre o clima, especialmente antes da próxima COP30, que será realizada em novembro na cidade amazônica de Belém do Pará, no norte do Brasil.
Ele ressaltou que a situação atual exige do BRICS uma capacidade fortalecida de ação conjunta e um investimento decisivo no multilateralismo e nos regimes internacionais.
"O governo brasileiro está convencido de que enfrentamos grandes desafios globais -- como as mudanças climáticas e a pobreza -- que só podem ser enfrentados por meio de compromissos coletivos", afirmou o embaixador.
Lyrio lembrou que vivemos um momento em que alguns desses regimes estão ameaçados pela falta de participação plena de muitos países, como é o caso da Organização Mundial da Saúde, da Organização Mundial do Comércio e do regime climático.
"Neste momento, temos, no grupo BRICS, na presidência brasileira, a oportunidade de articular melhor, eu diria, o poder combinado de todos esses países para que tenhamos um investimento ainda maior no regime climático e não uma erosão do processo que é tão central para nós", disse ele.
"Nesse sentido, as ações dos países do BRICS têm uma característica muito distinta: todos concordam com a necessidade de maior financiamento climático", observou.
Segundo Lyrio, há uma visão convergente entre os países em desenvolvimento e aqueles reunidos no BRICS de que precisamos envolver mais os países desenvolvidos nesse sentido.
"Quando falamos sobre os meios de implementação do Acordo de Paris -- Artigos 9, 10 e 11 -- estamos nos referindo ao fornecimento de recursos e capacidades reais para enfrentar as mudanças climáticas", disse ele.
Lyrio lamentou que resultados recentes, como os alcançados na COP em Baku, não tenham correspondido ao desafio, especialmente dada a lacuna persistente entre os recursos disponíveis e a estimativa de 1,3 trilhão de dólares necessários.
Ele enfatizou que o BRICS representam um conjunto de países que, ao mesmo tempo em que demandam maior comprometimento e recursos dos países desenvolvidos, também desempenham um papel ativo no combate direto às mudanças climáticas por meio de suas políticas públicas.
"Temos dois países que tomaram iniciativas e fizeram transições muito importantes no combate às mudanças climáticas. O Brasil, por exemplo, implementou uma transição energética antes que as preocupações com questões ambientais e climáticas surgissem, uma transição que estava caminhando na direção certa", disse ele.
"Ao mesmo tempo, temos outro país do BRICS, a China, que deu uma contribuição absolutamente central para o combate às mudanças climáticas, que é justamente a redução do custo de tecnologias-chave para redução de emissões. É o caso da redução do custo dos painéis solares, é o caso da redução do custo das baterias dos carros elétricos", enfatizou.
"Este papel que o BRICS desempenhou no fortalecimento e reforma da governança agora se soma ao papel de garantir a sobrevivência e o fortalecimento da governança global", afirmou.
Com a expansão do ano passado, o BRICS agora tem 11 membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. A cúpula dos líderes do grupo está marcada para 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro.