Importadores chineses fizeram grandes compras de soja do Brasil após as recentes escaladas de atrito comercial entre a China e os Estados Unidos, segundo uma reportagem do jornal de Cingapura, Lianhe Zaobao.
Os compradores chineses encomendaram pelo menos 40 navios de carga de soja brasileira em apenas três dias desta semana, totalizando pelo menos 2,4 milhões de toneladas, o equivalente ao que, em média, levariam cerca de um mês e meio para importar do Brasil.
Os contratos fechados nesta semana preveem, em sua maioria, embarques de grãos em maio, junho e julho. As 40 cargas representam quase um terço do volume médio processado por mês na China.
Esse pico de compras mostra que a China está acelerando ainda mais seu ritmo de "desamericanização" nas importações de produtos agrícolas, de acordo com a Bloomberg, citando pessoas familiarizadas com o assunto.
Os atritos comerciais entre a China e os EUA aumentaram recentemente. A análise aponta que a China continuou a promover a diversificação das fontes de importação nos últimos anos, e o Brasil se consolidou como o maior fornecedor de soja para a China. O ajuste fundamental da estrutura comercial está causando um impacto de longo prazo na agricultura dos EUA.
Os agricultores americanos mais uma vez se tornaram "vítimas" de disputas comerciais. O agricultor Ragland, do Kentucky, presidente da Associação Americana de Soja, disse que os laços comerciais com a China foram "completamente cortados" e as altas tarifas quase fecharam todos os canais de exportação de produtos agrícolas dos EUA para a China. Ele alertou que, se a situação continuar, os agricultores americanos poderão "ir à falência até 2027".
A Bloomberg citou dados mostrando que, até o momento, 88 fazendas dos EUA entregaram pedidos de falência somente neste ano, muito mais do que as 50 no mesmo período do ano passado. O New York Times destacou que os agricultores americanos foram duramente atingidos pela rodada anterior da guerra comercial de 2018 a 2019, com perdas de exportação para a China superiores a US$ 25 bilhões.
Um artigo publicado na revista americana Foreign Policy destacou que, como maior comprador mundial de produtos agrícolas, os ajustes da política da China terão um impacto profundo no cenário de exportação agrícola dos EUA.
Legisladores republicanos de estados agrícolas expressaram preocupações em audiências no Congresso, alertando que a guerra comercial está pressionando a agricultura do país e que os agricultores estão enfrentando incerteza e ansiedade sem precedentes.
Atualmente, os agricultores americanos estão confusos sobre o futuro. Como disse um fazendeiro que votou em Trump três vezes: "Todo o sangue, suor e trabalho duro que investimos nisso poderiam ser eliminados com uma tarifa".
A participação dos EUA nas importações de soja da China caiu para 18% de janeiro a novembro de 2024, de 40% em 2016, de acordo com dados da alfândega chinesa. A participação do Brasil, por sua vez, saltou de 46% para 74%.