O governo brasileiro disse quinta-feira que a China é um "parceiro natural" nas políticas de transição energética e nos esforços de cooperação internacional contra as mudanças climáticas, ao comentar a decisão dos Estados Unidos de abandonar a Acordo de Paris sobre o meio ambiente assinado em 2015.
A definição foi dada pelo embaixador André Corrêa do Lago, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como presidente da Conferência Mundial das Partes sobre Mudança do Clima (COP30) da ONU, que ocorrerá em novembro próximo na cidade de Belém, no Estado amazônico do Pará (norte).
"A China é obviamente um parceiro natural, assim como alguns países europeus e a Índia. E há outros países em desenvolvimento que querem seguir caminhos semelhantes ao Brasil, inclusive com biocombustíveis", disse Corrêa do Lago ao jornal Folha de São Paulo.
O diplomata, secretário de Meio Ambiente e Clima do Itamaraty, comentou a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de abandonar o Acordo de Paris e os compromissos que Washington havia assumido em termos de políticas e financiamento no combate contra as mudanças climáticas.
"É uma pena porque os Estados Unidos estavam indo em uma direção muito interessante, favorecendo essa transição energética, e entraram em uma fase reversa. Então será um país com o qual não teremos tantos problemas para discutir como costumávamos ter," disse.
"Mas, mesmo assim, há tantos investimentos nos Estados Unidos, tantas empresas importantes, tantas universidades, tantas pessoas pensando na transição energética, que ainda há muito que podemos fazer com os americanos," acrescentou.
O presidente da COP30 disse que os acordos de financiamento climático estão entrando em um ponto de interrogação quando questionado sobre a nova posição dos EUA.
"Há vários sinais de que estamos passando por uma fase de questionamento de uma tendência que já vem ocorrendo há vários anos: o fortalecimento do compromisso ambiental de bancos e empresas. Não há dúvidas de que estamos entrando em uma fase em que há várias questões, principalmente devido às interpretações dos custos que isso tem representado", disse.
Para Corrêa do Lago, a COP30 deveria primeiro considerar "discutir o que é financiamento climático" de nações ricas que causam devastação ambiental com desenvolvimento industrial há mais de um século em países em desenvolvimento.
"Se você considerar apenas os recursos que os países ricos estão concedendo aos países em desenvolvimento, então, de fato, o país mais rico do mundo está saindo. Um país que você esperaria ser um dos maiores contribuintes", explicou.
O diplomata defendeu a continuidade da linha trabalhada pelo Brasil no G20 em 2024 rumo à COP30, que será realizada na Amazônia.
"A ação do Brasil neste ano não será uma negociação que ocorrerá apenas em Belém, mas sim um esforço que ocorrerá ao longo de todos esses meses", afirmou.