A presidência brasileira do BRICS em 2025 representa uma oportunidade fundamental para promover a sustentabilidade, a inclusão e o multilateralismo, disseram especialistas brasileiros à Xinhua.
Sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil busca fortalecer seu papel na reforma da governança global e na expansão do grupo, alinhando suas metas com a Cúpula do Clima COP30, que também será realizada no país este ano.
O país sul-americano assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro sob o lema "Fortalecendo a cooperação no Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável". Em julho, será realizada no Rio de Janeiro uma cúpula com os chefes de Estado dos países-membros.
Maria Elena Rodriguez, vice-diretora do BRICS Policy Center e professora de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), destacou a importância do Brasil poder definir sua própria agenda durante sua liderança.
"Esta é uma oportunidade única para o Brasil articular sua visão para o futuro do BRICS. Sustentabilidade e mudança climática serão questões prioritárias, criando sinergias com a COP30", disse Rodriguez à Xinhua.
Rodriguez também enfatizou o compromisso do país com o multilateralismo e uma maior participação na governança global.
"O Brasil defende uma reforma estrutural que inclua mais países do Sul Global como protagonistas. A recente expansão do grupo é um sinal de sua crescente relevância, embora deva ser feita com critérios mais transparentes para garantir inclusão efetiva e clareza no papel dos novos membros e observadores", acrescentou ela.
Por sua vez, Jhonathan Mattos, mestre e doutorando em Relações Internacionais, destacou a continuidade da agenda de sustentabilidade e inclusão promovida por Lula desde sua presidência do G20, no ano passado.
"A abordagem brasileira fortalecerá as bases institucionais do BRICS, inclusive promovendo mecanismos alternativos de pagamento para facilitar o comércio", disse Mattos. Ele também enfatizou a importância de abordar as desigualdades globais, como aquelas vivenciadas durante a distribuição das vacinas contra a COVID-19. "Inclusão social e governança mais equitativa são objetivos centrais", ressaltou.
O especialista brasileiro também destacou o papel da recente inclusão da Indonésia como membro pleno do grupo, anunciada pelo Brasil nesta semana.
"A economia mais dinâmica do Sudeste Asiático simboliza o espírito de expansão do grupo, reforçando a conexão com a visão brasileira de proteger os grandes pulmões do planeta: a Amazônia, a Bacia do Congo e as florestas da Indonésia", acrescentou.
Para ele, a liderança do Brasil em plataformas como o Mercosul e o G20 é uma manifestação clara de seu comprometimento com uma ordem mundial mais inclusiva.
Ambos os analistas concordam que, embora o BRICS tenha amadurecido como uma alternativa às instituições tradicionais, ele ainda enfrenta desafios estruturais e institucionais.
"A diversidade de modelos políticos e econômicos é uma força, mas também exige maior coesão nas decisões multilaterais", concluiu Jhonathan Mattos. Rodriguez, por sua vez, considerou que a clareza nos procedimentos de adesão e governança interna serão fundamentais para o futuro do grupo.
Os BRICS eram inicialmente compostos por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No ano passado, o bloco incluiu a Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, e, esta semana, a Indonésia também foi incorporada como membro pleno do bloco.